quinta-feira, 30 de julho de 2015

EUA preveem El Niño mais violento em décadas, afetando também o Brasil

O GLOBO: RIO — Um cartão-postal do inferno se desenha para o próximo verão. Ele mostra uma colossal mancha vermelha no Oceano Pacífico e representa, segundo as agências climáticas dos Estados Unidos e da Austrália, o fortalecimento do El Niño, o fenômeno que semeia seca, calor e tempestade planeta afora. Dizem as agências, pode ser o mais avassalador em 50 anos. Se estiverem certos, um super El Niño. A mancha vermelha sinaliza o aquecimento anormal da água do Oceano Pacífico, marca registrada do El Niño. No Brasil, pesquisadores discordam e não acreditam que ganhará tanta potência. Mas o fato é que ele já está entre nós. 

Há sinais do El Niño nas chuvas torrenciais que desde abril castigam o Sul do Brasil. A única coisa boa do saco de maldades de dimensões planetárias do “menino do tempo” foi tirar do sufoco hidroelétricas do Sul do Brasil. Mas as benesses param aí. Já começa a chover demais para a agricultura. E junto com os períodos de chuva prolongada vieram algumas das piores tempestades dos últimos anos na região. 

CHUVA EM VEZ DE FLORES 

O exemplo mais notório é o tornado que arrasou a cidade de Xanxerê, em Santa Catarina, em 20 de abril. Uma análise recém-concluída pelo coordenador do Programa de Pós-Graduação em Meteorologia da Universidade Federal de Santa Maria (RS) Ernani Nascimento, um dos maiores especialistas em tempo severo do país, indica que os ventos chegaram a 260 km/h, o que coloca o tornado de Xanxerê como um dos mais violentos já registrados no Brasil, atrás apenas do de 2005 em Indaiatuba, São Paulo. 

No Brasil, o El Niño afeta principalmente as regiões Sul, com chuvas torrenciais, e Nordeste, com o agravamento da seca. Ele também costuma elevar as temperaturas de forma geral em boa parte do Brasil. Invernos quentes, primaveras tórridas e verões absolutamente escorchantes. 

O Sul costuma ser afetado primeiro. A seca no Nordeste vem depois, numa tentativa do planeta em se reequilibrar. No Sudeste, uma zona de transição, o cenário é incerto. Só quando entrar setembro — e, com ele, não as flores, mas as chuvas da primavera —, será possível saber se continuará a seca que atormentou a região este ano e no ano passado.