O
sertão nordestino possui uma paisagem muito particular e hostil. Desde os
tempos do Império se discute formas de como solucionar a miséria daqueles que
habitam a região, entretanto, até hoje muito pouco se fez por essas pessoas.
Foi neste cenário de descaso que uma figura mística conseguiu reunir dezenas de
milhares de seguidores e fundar no antigo povoado de Canudos o Arraial de Belo
Monte. Lá, se desenvolveu um sistema autossuficiente baseado em cooperativismo.
O sucesso de Belo Monte se tornou cada vez mais evidente quando seus habitantes
passaram a ir a outras cidades vender excedentes de produção, tornando-se o
centro econômico de parte do sertão baiano. Esse novo modelo acabou
chamando atenção da elite local, que se via ameaçada pelas ondas de migração de
sertanejos para o povoado do místico Antônio Conselheiro.
Diferentemente
da usual política imperial, a recém nascida República estava trazendo ao
país uma postura de Estado cada vez mais autoritária. Se antes os sertanejos
estavam à própria sorte, agora eles também tinham impostos a pagar ao governo.
Isso evidentemente incomodou Antônio Conselheiro, que se recusava a pagar tais
tributos. Foi o que bastou para a imprensa convertê-lo em uma ameaça à
República, Conselheiro passou a ser referido como um monarquista com apoio
internacional para combater o novo modelo de governo. O primeiro ataque a
Canudos aconteceu em Outubro de 1896, quando a cidade de Juazeiro pediu auxílio
às forças nacionais para conter um suposto ataque dos conselheiristas. O
confronto foi rápido e, entre baixas dos dois lados, resultou na retirada da
expedição, que não esperava real resistência dos canudenses.
Após
esse primeiro contato a República passou a reconhecer Canudos como uma
verdadeira ameaça monarquista, estando decidida a dissolução do povoado. Já
para os seguidores de Antônio Conselheiro, a resistência era a única opção.
Foram armadas táticas de guerrilha que deram conta de derrotar outras duas
expedições enviadas. Em um dos confrontos, inclusive, foi morto o respeitado
Coronel Antônio Moreira César, conhecido como "o corta-cabeças".
A repercussão das derrotas foi tamanha que uma quarta expedição,
muito bem armada e mais preparada, foi enviada. Canudos finalmente caiu em 5 de
outubro de 1897, com um saldo de cerca de 25 mil vítimas em um ano de conflito,
Monte Santo resistiu até o último homem, e o exército brasileiro saiu vitorioso
de sua mais desonrosa campanha: com exceção de um pequeno grupo de mulheres de
crianças, todos os prisioneiros foram degolados.
A saga do exército brasileiro na luta contra os pobres sertanejos de Antônio Conselheiro rendeu à literatura nacional uma obra prima. O livro de Euclides da Cunha, "Os Sertões", colocou em evidência a dor e a miséria do sertão, tendo tido repercussão mundial. Durante a última expedição enviada pelo exército, foi mandado um fotógrafo para registrar o combate, era o primeiro conflito interno no Brasil a ser fotografado. Por falta de tecnologia, essas imagens não chegaram a circular nos jornais da época, tendo ficado esquecidas por décadas. Recentemente o Instituto Moreira Salles restaurou o acervo de inestimável importância documental, permitindo uma observação mais detalhada da Guerra de Canudos.
A saga do exército brasileiro na luta contra os pobres sertanejos de Antônio Conselheiro rendeu à literatura nacional uma obra prima. O livro de Euclides da Cunha, "Os Sertões", colocou em evidência a dor e a miséria do sertão, tendo tido repercussão mundial. Durante a última expedição enviada pelo exército, foi mandado um fotógrafo para registrar o combate, era o primeiro conflito interno no Brasil a ser fotografado. Por falta de tecnologia, essas imagens não chegaram a circular nos jornais da época, tendo ficado esquecidas por décadas. Recentemente o Instituto Moreira Salles restaurou o acervo de inestimável importância documental, permitindo uma observação mais detalhada da Guerra de Canudos.
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Vista parcial de Canudos ao norte, 1897 (Flávio de Barros/Acervo Museu da República). |
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Membros
do 39º Batalhão de Infantaria em ação, 1897 (Flávio de Barros/Acervo Museu da
República).
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Membros
do 12º Batalhão de Infantaria na trincheira, 1897 (Flávio de Barros/Acervo
Museu da República).
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Vista
parcial de Canudos ao sul. Segundo o registro oficial do exército, foram
contados 5200 casebres no arraial de Antônio Conselheiro, 1897 (Flávio de
Barros/Acervo Museu da República).
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Membros
do 40º Batalhão de Infantaria na trincheira,1897 (Flávio de Barros/Acervo Museu
da República).
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Cadáveres
nas ruínas de Canudos, 1897 (Flávio de Barros/Acervo Museu da República).
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Vista
parcial de Canudos ao norte, desta vez enquanto a cidade de Antônio
Conselheiro, já derrotada, era incendiada, 1897 (Flávio de Barros/Acervo Museu
da República).
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Jagunço
conselheirista prisioneiro ao lado de alguns membros do exército, ele seria
degolado logo em seguida, 1897 (Flávio de Barros/Acervo Museu da República).
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Bônus:
uma análise das fotografias de Canudos pela Professora Walnice Nogueira Galvão,
especialista na obra de Euclides da Cunha.