domingo, 8 de março de 2015

Sou neto de Pedro Horácio

Pedro Horácio e Maria, sua esposa.
Esta semana sonhei que minha rua, em frente à casa de minha vó Maria, estava repleta de mesas e cadeiras para comemoração do aniversário de meu avô, Pedro Horácio. Quando olhei adiante lá vinha ele de óculos, vestindo uma daquelas suas camisas de pano grosso e curta e ali nos abraçamos. Pareceu-me bem real. Acordei emocionado e aos prantos.

Vô Pedro Horácio era multifuncional: padeiro, pedreiro, eletricista, carpinteiro, agricultor, comerciante..., além de ter incentivado e deixado sua contribuição na cultura local. Algumas das suas amizades eram bem específicas: seu Babá era companheiro de caçadas; já Nelson Lopes, Titito e Paulo Pinheiro eram companheiros no jogo de baralho. Meu avô tinha um dedo de uma das mãos sem movimento, consequência de um acidente enquanto consertava um motor, o que não o impediu de continuar sendo um homem obcecado pelo trabalho. Ele inventava de tudo, menos a preguiça, a desonestidade e o desânimo. Quando menino, eu junto dele fui papangu, ajudante de bingo, vendedor de frutas, de rede e por último era eu quem juntava as bolas no jogo de derrubar latas. No final do dia ele me gratificava com moedas. Nesta época decorei muitos versos de cantadores de coco dos seus discos que agente usava para atrair fregueses e lembro-me bem de que numa véspera de São João, adentrei a noite sozinho vendendo fogos de artifício, porque ele somente insistia em dançar na rua, com seu jeito gracioso, depois de tomar quase todas no boteco de D. Raimunda, que ficava em frente.

Meu avô ainda jovem morava na Paraíba e veio para Japi a convite de seu tio, Manoel Medeiros, para trabalhar num motor descaroçador de algodão. Nesta época casou-se com minha vó Maria, ficou aqui e posteriormente tornou-se o homem de quem toda a cidade dependia para que abastecesse e mantivesse funcionando um motor que gerava energia para os poucos moradores da pacata cidade, nos anos sessenta. Depois, junto a seu Manoel Eletricista, com a chegada da energia da hidrelétrica de Paulo Afonso, foram os primeiros que sem nenhuma formação e experiência, aventuram-se a continuar prestando esses serviços.

De meu avô guardo com carinho sua companhia em minha infância, a lembrança dos meus inúmeros brinquedos inventados e fabricados carinhosamente por ele, cujo gesto há de para sempre encantar a minha vida. Nunca esquecerei as suas palavras ditas com o aval já dos seus cabelos brancos no dia do meu casamento, que ainda hoje me emocionam e ecoam dentro de mim: Conte sempre comigo! Foi ele também que por último deixou ao meu alcance o exemplo de Homem que soube dignificar a vida, a família e os amigos em sua passagem por esta terra, coroada com a magia de minha vó Maria, que ainda hoje me beija as mãos, junto ao seu sonoro e bem-aventurado Deus te abençoe, que nasce do mais profundo do seu coração.

Maciel Souza.

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