Final de setembro de 1992. O então presidente Fernando Collor de Mello encontrava-se sob a ameaça de deixar o governo. Enquanto o País afundava na inflação alta, a popularidade de Collor ruía e o Planalto dava demonstrações de que não sabia como virar o jogo. O impeachment ganhava forma, força e materialidade. No Congresso, Collor não sabia com quem contar e seus antigos aliados começavam a mudar de lado.
O cenário guarda grandes semelhanças com o momento vivido hoje por Dilma Rousseff. Com 13 pedidos de impeachment protocolados na Câmara, a presidente está ameaçada pelos mesmos fantasmas que assombraram Collor. Por uma coincidência política, Dilma e Collor também atingiram o apogeu da crise política no mês de setembro. O pedido de impeachment do então presidente foi assinado pelo então presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Barbosa Lima Sobrinho, um nome acima de qualquer suspeita, e chegou à Câmara no dia 2 de setembro de 1992. Exatos 23 anos depois, no dia 17 de setembro de 2015, um conceituado jurista, Hélio Bicudo, protocola um documento semelhante propondo a saída de Dilma Rousseff.
Em 1992, a efervescência política embalava as manifestações de rua, exatamente como agora. Quando, no dia 16 de agosto, Collor conclamou os brasileiros a defender o seu mandato nas ruas usando verde e amarelo, produziu-se o efeito inverso. No chamado “domingo negro”, caras pintadas ocuparam as principais avenidas do País, mas não exibindo as cores da bandeira do Brasil, como queria Collor, e sim de preto, em sinal de protesto. No mesmo 16 de agosto deste ano, cerca de 800 mil pessoas participaram de manifestações pelo País para pedir o afastamento de Dilma. Àquela altura, Collor amargava um índice de aprovação de apenas 9%. Hoje, Dilma é ainda mais impopular: somente 7% aprovam seu mandato.
A cronologia dos fatos mostra não apenas a semelhança do momento vivido, mas também as coincidentes reações dos dois presidentes à ameaça do impeachment. Assim como Dilma e o PT, Collor também se dizia vítima de um golpe. “Custe o que custar, doa a quem doer, eu serei o primeiro a estar na defesa e no embate da nossa Constituição. Uma minoria quer realizar o terceiro turno das eleições. As manobras para o meu afastamento interessam aos recalcados, complexados e invejosos que formam o sindicato do golpe filiado à central única dos conspiradores”, afirmava o então presidente. Enquanto isso, José Dirceu cumpria o papel inverso. Um dos símbolos do modo de operar da legenda, o ex-ministro, então deputado federal e relator da CPI do PC Farias, em 1992, declarou numa entrevista em julho daquele ano: “Não se faz impeachment na Câmara e no Senado. Ele acontece na sociedade”, disse o ex-ministro à época num discurso que hoje seria considerado “golpista” pelos petistas.
2015No dia 16 de agosto deste ano, milhares de brasileiros ocuparam
as principais avenidas do País para pedir a saída de Dilma.
Alguns traços da personalidade dos presidentes também são parecidos. Os parlamentares sabiam que era preciso tirar Collor por meio de um processo de impeachment porque seu temperamento não permitiria a renúncia. Em julho de 1992, Collor chegou a declarar que somente sairia do Planalto morto. Em outra coincidência, Dilma concedeu entrevista em julho passado garantindo que não cairá ou renunciará o cargo. Para integrantes da Frente Parlamentar a favor do impeachment, a renúncia também não combinaria com o estilo e o passado de Dilma Rousseff.
No capítulo dos malfeitos, pesava sobre Collor o envolvimento no esquema PC Farias. Sua situação começou a se deteriorar com a delação do seu irmão, Pedro Collor, e a pá de cal foi a entrevista à ISTOÉ do motorista Eriberto França, em que confirmou que PC bancava as despesas da família do presidente, como a compra de um Fiat Elba e a famosa reforma na Casa da Dinda, um imóvel particular transformado em residência oficial. Hoje, recaem sobre Dilma as suspeitas de que sua campanha foi irrigada com dinheiro desviado do escândalo conhecido como Petrolão. O esquema foi revelado pelo delator Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras. Eleito por um partido nanico, o PRN, e sem base de sustentação no Congresso, Collor perdeu as condições políticas de se manter no poder e saiu pela porta dos fundos. A julgar pelos recentes acontecimentos políticos, o mesmo destino pode estar reservado a Dilma.