segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Presente do papa lança luz sobre padre exilado que foi mentor de Fidel

No encontro de domingo do papa Francisco com o ex-líder cubano Fidel Castro, em Havana, chamou a atenção um livro que o pontífice trouxe como presente.

Mais especificamente o autor: o padre jesuíta Armando Llorente. Professor de Fidel no ensino fundamental, Llorente acabou exilando-se de Cuba depois da revolução socialista comandada por seu ex-aluno, em 1959.

O padre deixou a ilha em 1961, indo para Miami. E lá morreu em 2010.

Francisco lançou luz sobre este episódio pouco conhecido da vida de Fidel ao entregar-lhe um livro e discos com sermões e reflexões de Llorente.

Para o escritor Austen Ivereigh, autor de uma biografia do papa, Francisco quis, com esse gesto, mandar uma mensagem para o ex-líder cubano.

“O presente pode ter sido uma ajuda para que Fidel se reconcilie com seu passado”, disse o escritor em sua conta no Twitter.

Ivereigh conta que Llorente conheceu Fidel nos anos 40, quando o jesuíta lhe deu aulas no Colégio Belém, em Havana.

Mas depois do exílio, perderam o contato. Em 2007, em uma entrevista para a agência de notícias EFE, Llorente disse que “viajaria imediatamente” para Cuba se Fidel o convocasse.

“O primeiro que faríamos seria trocar um abraço e rir das aventuras que tivemos, que foram inúmeras ou bonitas”.

Mas Llorente também disse que falaria “verdades” a Fidel. E que seu maior desejo era “absolver” seu ex-aluno e que ele pedisse desculpas públicas porque “seus pecados não eram apenas pessoais”.

Curiosamente, no entanto, o padre durante anos foi acusado por membros mais conservadores da diáspora cubana de ser um mentor para Fidel e responsável por decisões tomadas pelo ex-líder cubano.

Fidel menciona Llorente em sua biografia, “A Vitória Estratégica”, ao lembrar o que o padre escreveu sobre ele (Fidel) em seu anuário de graduação.

“Distinguiu-se em assuntos relacionados às letras. Foi um verdadeiro atleta, defendendo com valor e orgulho a bandeira de seu colégio. Cursará Direito e não temos dúvidas de que encherá de páginas brilhantes o livro de sua vida”.

Mas, curiosamente, um outro religioso também esteve na troca de presentes entre o papa e Fidel: o teólogo brasileiro Frei Betto, que viajou a Cuba para acompanhar a visita papal.

O ex-líder cubano entregou a Francisco uma cópia de Fidel e a Religião, livro baseado em uma longa entrevista dada justamente a Betto, em 1985.

Falando à BBC Mundo, Betto disse que o livro vendeu mais de 1,3 milhão de exemplares em Cuba. E que a obra aborda as experiências e relações de Fidel com o mundo religioso.

Em mais de 300 páginas, porém, não há uma única menção ao antigo tutor, Llorente.