Estadão - Menos de um ano depois de assumir seu segundo mandato presidencial, Dilma Rousseff corre o risco real de ser retirada do Palácio do Planalto por conta de um processo de impeachment. A decisão tomada nesta quarta-feira, 2, pelo presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de autorizar o pedido de abertura do impeachment contra ela, fragiliza ainda mais o governo petista já abalado pelo efeito das investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, e, sobretudo, pela gravíssima crise econômica.
Com órgãos do governo e aliados envolvidos diretamente com acusações de corrupção, Dilma viu sua popularidade se desmanchar meteoricamente desde a posse em janeiro. Somando isso com o quadro de forte retração na economia, aumento sensível do desemprego e paralisia das ações do governo, o cenário ficou preparado para um desastre político. O que parecia ser uma tempestade perfeita já se transformou numa espécie de apocalipse do governo petista.
Embora negue, Cunha negociou até o último instante com governo e PT uma espécie de troca. Se ajudassem a salvar seu mandato, não aceitaria o pedido de impeachment. Não houve acordo e o presidente da Câmara, que luta desesperadamente para salvar a própria pela, decidiu disparar na direção da presidente.
A consequência imediata do pedido é a paralisia do governo. A partir de agora, Dilma e seus aliados vão se concentrar apenas em captar votos para barrar o impeachment. Com isso, também foi dada a largada para a nova temporada do balcão do toma lá dá cá do Congresso.
Mesmo ainda tendo a caneta na mão, esses votos são uma incógnita. O problema é que o peso da opinião pública é sempre muito relevante nessas discussões. Antiga máxima de Brasília diz que políticos até carregam a alça do caixão de um colega que caiu em desgraça. Mas jamais serão descerão à sepultura com ele. Foi assim com o senador Delcídio Amaral (PT-MS), que, na semana passada, precisou do apoio dos colegas no Senado para ter relaxado seu pedido de prisão pela Lava Jato. Líder do governo, popular e admirado pelos colegas, Delcídio viu até mesmo companheiros de partido votarem contra ele. Com a imensa pressão popular pela manutenção da prisão de Delcídio, a maioria dos senadores não quis correr risco de se desgastar.
Fragilizada politicamente e com baixíssimo apoio popular, Dilma terá agora o grande desafio de amarrar um amplo arco de alianças disposto a apoiar a manutenção do seu mandato. Sem nunca ter tido paciência para negociações desse tipo, precisará mais do que nunca convencer os parlamentares a lhe apoiarem. Afinal de contas, está nas mãos dessa turma o futuro de seu governo.
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