terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Leite vira artigo de luxo na Venezuela


A escassez de produtos básicos que assola a Venezuela continua a criar situações que demonstram a difícil situação econômica do país, onde a inflação calculada por analistas independentes chega a 270% ao ano. De acordo com uma matéria publicada pelo diário “Correo del Caroní”, os pacotes de leite em pó chegaram às prateleiras, mas não são consumidos por seu alto valor. De acordo com o jornal, do município de Guayana, o preço de um quilo de leite em pó (2.125 bolívares), representaria o equivalente a 22% do salário mínimo, atualmente em 9.648 bolívares.

Segundo o câmbio oficial, o valor do quilo de leite em pó seria equivalente a R$ 1.269, e o salário mínimo a R$ 5.760. No entanto, segundo o diário argentino “La Nación”, a desvalorização da moeda venezuelana faz com que o bolívar valha, no câmbio paralelo, apenas 1% de sua cotação oficial — o que significaria um preço de pouco mais de R$ 12 para o leite, e salários mínimos com valor próximo a R$ 57.

— Dizem que o leite é “enriquecido com vitaminas e cálcio extra” para vendê-lo a esse preço — protesta a dona de casa Sonia Indriago. — Comer na Venezuela se tornou um luxo, e agora é preciso estabelecer prioridades. Se você compra leite, não compra nem carne, nem frango, porque ficou impossível.

O presidente da Aliança Sindical Independente, Carlos Navarro, afirmou em entrevista que, com dois salários mínimos, acrescidos das bonificações de alimentação, só é possível comprar comida para 17 dias. Segundo ele, os trabalhadores do país não são prioridade nem para o governo nem para a oposição.

Já o deputado chavista e ex-ministro da Habitação Ricardo Molina afirmou ontem que “nada justifica que uma pessoa adquira mais de cinco ou seis pares de sapatos em um ano”.

— O padrão de consumo na Venezuela está absolutamente distorcido — afirmou Molina em entrevista à rede Televen.

O país vive uma batalha entre o presidente Nicolás Maduro e a nova Assembleia Nacional sob comando da oposição, em torno da emergência econômica decretada pelo governo. O Legislativo rejeitou a medida na semana passada, sob alegação, entre outras coisas, de que o Executivo não provou que os instrumentos a seu dispor não são suficientes para lidar com a crise. Além disso, diz que o governo continua não liberando informações precisas sobre o estado da economia e que a emergência econômica, como foi proposta, seria uma carta branca para Maduro.

A crise também foi tema de um encontro de militantes do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) na tarde de ontem. Em discurso, o governador do estado de Vargas, Jorge García Carneiro, afirmou que a crise no país é parte de uma “guerra psicológica”.

— Para nós, não há escassez. O que há é o amor e a pátria — minimizou.

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