A sessão que marcou o início do ano do Judiciário na tarde de ontem (1º) no Supremo Tribunal Federal (STF) foi marcada por constrangimentos e recados velados entre as autoridades presentes. A principal cena embaraçosa foi protagonizada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). As regras do cerimonial da Corte obrigaram acusador e acusado a sentarem lado a lado durante a sessão.
Janot e Cunha não trocaram palavras nem cruzaram olhares, e, além do mal-estar causado pela disposição dos assentos, o procurador ainda fez questão de ignorar o parlamentar ao cumprimentar as autoridades presentes em seu discurso.
“Excelentíssimo senhor ministro Ricardo Lewandowski, presidente do STF; excelentíssimo senhor Renan Calheiros, presidente do Congresso Nacional; excelentíssimo ministro de Estado da Justiça, José Eduardo Cardozo, representando a excelentíssima presidente da República; senhoras ministras, senhores ministros, demais autoridades presentes (…)”, disse Janot ao dar início à sua fala, marcada pela valorização das investigações da Operação Lava Jato.
Questionado sobre a razão de não ter incluído Cunha nos cumprimentos iniciais, Janot respondeu que só saudou os presidentes dos Poderes.
Cunha é um dos políticos investigados pela força-tarefa, denunciado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Pouco antes do início do recesso do Judiciário Janot também apresentou ao STF um pedido de afastamento do peemedebista do cargo. Cunha rebate as acusações e afirma que o procurador é parcial em suas investigações.
Janot declarou que a atuação do Ministério Público Federal é pautada pela “impessoalidade e apartidarismo”, e que a instituição se opõe a “qualquer tipo de autoritarismo”. O procurador ainda garantiu que os “holofotes não serão desligados” e estão direcionados ao cumprimento da ordem jurídica.
“Por natureza, não compactuamos ou tergiversamos com o ilícito, com o autoritarismo ou interesse velado. Buscamos, simples e só, de forma clara e objetiva, a verdade dos fatos e não de factoides e seu enquadramento jurídico. Sem evasivas, sem cortina de fumaça”, afirmou Janot. O discurso do procurador foi aplaudido por todos os presentes, com exceção de Cunha.
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