Em
um país como o Brasil, que sofre com a lentidão da Justiça, uma história
bastante ilustrativa aconteceu com um homem chamado Afanásio Guimarães.
Afanásio se envolveu em uma confusão com o vizinho por causa de duas galinhas.
Um acordo poderia ter resolvido a briga, mas o caso foi longe. Muito mais do
que os dois poderiam imaginar.O maior processo da história do Supremo Tribunal
Federal (STF) teve 53 sessões, em que foram julgados 38 réus, em uma ação penal
de mais de 50 mil páginas. Agora, entre milhares de processos, o STF tem que
analisar dois casos de furto de galinhas. “Para mim não tem lógica nenhuma
isso. Inclusive, já aconteceram tantas coisas piores lá na minha cidade”, diz
Afanásio Maximiano Guimarães, acusado pelo furto.
Afanásio
é um dos réus. Ele é acusado de ter se apropriado de duas galinhas do vizinho,
Raimundo Miranda, no ano passado. Foi em Rochedo de Minas, cidade a 309
quilômetros de Belo Horizonte. Afanásio afirma que não furtou os bichos. “As
galinhas dele ficavam soltas, iam no meu quintal, ficavam ciscando lá. Matei
para comer mesmo”, diz ele.
Raimundo
Miranda deu queixa, e o juiz Júlio Cesar de Castro aceitou a denúncia.
“Permitir isso em uma cidade do interior seria permitir o caos. Daqui a pouco
todo mundo vai querer furtar galinha porque ‘a Justiça aqui não condena quem
furta galinha, quem furta chocolate’”, justifica o juiz da comarca de São João
Nepomuceno (MG). Afanásio ainda procurou Raimundo Miranda para tentar pagar um
valor pelos animais. Só que isso foi quatro meses depois do ocorrido, e aí
Raimundo Miranda não quis mais acordo. “Está na Justiça; o que fizer, está
feito”, afirma Raimundo Miranda, vítima do furto. A defensora pública de
Afanásio, Renata Martins, quer que o processo seja suspenso, com base no
princípio da insignificância: uma interpretação de que o furto das galinhas não
teve relevância para ser considerado crime.
Via
GL