Caberá
ao PSB decidir o que fará com a cabeça de sua chapa à presidência da República,
mas de duas uma: ou Marina Silva ascende à posição aberta com a morte de
Eduardo Campos, ou a terceira opção desaparece. Se ela era a candidata a
vice-presidente até as primeiras horas da manhã desta quarta-feira, será
difícil justificar outra solução, sobretudo tratando-se de uma companheira de
chapa que tem identidade própria e recebeu 20 milhões de votos na última
eleição.
Marina
não entrou na chapa de Eduardo Campos como um simples apenso destinado a
costurar acordos partidários. Se não serve para substituir o candidato morto,
serviria para quê? Com algum exagero no paralelo, o entendimento de que o
vice-presidente é um enfeite desemboca na manhã de outro agosto, de 1969,
quando o presidente Costa e Silva estava entrevado por uma isquemia cerebral e
os ministros militares mandaram o vice Pedro Aleixo para casa. Dezesseis anos
depois, para alívio geral, o vice-presidente José Sarney assumiu no dia em que
Tancredo Neves deveria ser empossado. O presidente eleito estava hospitalizado
e morreria mês depois.
Pedro
Aleixo e Sarney já haviam sido eleitos. Ambos, contudo, eram enfeites. Um, para
dar um toque civil à presidência de um marechal. O outro, dava sabor governista
a um presidente da oposição. Não sendo enfeite, Marina é mais que isso.
Se
a ex-senadora for deixada de lado, a terceira via implode. Se ela substituir
Eduardo Campos a natureza desse terceira via muda de qualidade e transforma a
eleição deste ano numa reedição do pleito de 2010.
Eduardo
Campos será sepultado no mesmo jazigo onde está seu avô, Miguel Arraes. morto
em outro 13 de agosto. Ele disputava a presidência contra outro neto, Aécio
Neves. Nos próximos dias vai-se saber o que farão o PSB e Marina. A lembrança
de Arraes e Tancredo, contudo, leva a uma especulação passadológica. Em 1980,
quando a polarização bipartidária foi rompida pelo governo, Tancredo sinalizou
que iria para um terceiro caminho, dizendo que o seu MDB não era o de Arraes.
Quatro
anos depois, quando se costurava o arco de alianças que permitiria a eleição
indireta de Tancredo, o deputado Fernando Lyra (irmão do atual governador de
Pernambuco) costurou um encontro de Tancredo com Arraes e o impossível
aconteceu. Os dois ficaram juntos, acabaram com a ditadura e foram felizes para
sempre.
Tancredo
elegeu-se presidente da República porque costurou alianças consideradas
impossíveis pela política do andar de cima e óbvias para o ronco das ruas no
andar de baixo, ouvida durante a campanha das Diretas.
Havia
no avô de Aécio Neves habilidade, mas sobretudo conhecimento da História.
Diferenciou-se pela percepção que teve do fenômeno político que formaria
alianças para lá de implausíveis.
Se
o PSB, marineiros e tucanos quiserem impedir que o PT permaneça no governo por
16 anos seguidos, em algum lugar alguém pensará o impossível: Marina Silva na
campanha de Aécio Neves. Olhando-se essa hipótese pela ótica da política é
enorme o espaço que os separa. Pela ótica da História, caso ela esteja no
tabuleiro, é razoável. Se não estiver, paciência. Tancredo não fazia só
política, fazia História.
Elio Gaspari