Em
qualquer padaria ou posto de gasolina no Brasil é possível encontrar
e comprar um pacotinho de seda, dessas usadas para enrolar um cigarro
de maconha. Isso não é novidade para quase ninguém, e não há quem critique.
Paradoxalmente, uma pesquisa realizada pelo Instituto Ibope e divulgada nesta
quinta-feira, revelou que 79% dos brasileiros são contra a descriminalização da
maconha.
Outro
dado revelado pela pesquisa é a posição dos brasileiros em relação ao casamento
entre pessoas do mesmo sexo. E mais da metade, 53%, disseram ser contra. A
maioria é contra também a descriminalização do aborto: 79%.
O
país do contra, porém, não reflete exatamente o que é feito na prática. No
Brasil, calcula-se que um milhão de mulheres realizem um aborto ao
ano. Ou seja, uma em cada cinco já fez esse procedimento clandestinamente. E a
cada dois dias, uma brasileira morre em decorrência de um aborto inseguro.
Para
Valter Silverio, docente do departamento de sociologia e da pós-graduação da
UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos), esse paradoxo entre a prática e o
que é dito nas pesquisas ocorre porque omitimos nossas opiniões em busca do
politicamente correto. “É muito provável que você encontre entre esses 80% que
são contra o aborto um grande percentual de pessoas que já tenham feito
aborto”, diz. “O mesmo vale para os que são contra o casamento gay; muitos
deles já tiveram relações homoafetivas”.
Em
busca do politicamente correto, um problema de saúde pública como o aborto fica
fora também da agenda eleitoral, já que os presidenciáveis evitam esbarrar
nesses assuntos polêmicos. Na semana passada, a candidata Marina
Silva (PSB) mudou seu programa de governo, alterando o parágrafo que
falava sobre a união de pessoas do mesmo sexo. Evangélica, Marina Silva evita
falar sobre o tema. Dilma Rousseff e Aécio Neves compartilham da mesma postura,
o silêncio, ou, evitar, ao máximo falar desses assuntos polêmicos.
Para
Silverio, essa fuga dos candidatos tem a ver com esse paradoxo “e com
algo muito pior: a nossa opinião publica”. Segundo o professor, ainda que os
jornais de grande circulação no Brasil tratem do assunto, e moldem a opinião
pública favorável a esses temas, a quantidade de leitores atingidos é muito
restrita. “Ao mesmo tempo, o rádio e a televisão desconstroem qualquer
possibilidade de enfrentamento sério desses temas”, diz. “É como se fosse feita
uma doutrinação bíblica pelos veículos de comunicação”, explica, citando a
quantidade de rádios evangélicas no país como um “fenômeno impressionante”.
Os
únicos candidatos que falam mais sobre o assunto – e defendem a
descriminalização do aborto e da maconha - são Eduardo Jorge, do PV e
Luciana Genro, do PSOL. Cada um deles tem apenas 1% das intenções de voto nas
pesquisas. Segundo Silverio porém, embora os presidenciáveis no topo das
pesquisas não falem sobre o assunto, essa pesquisa não interfere
necessariamente, nas urnas. “Se 80% são contrárias ao aborto, como se explica a
recuperação de Dilma Rousseff nas pesquisas, sendo que ela representa, de
alguma maneira, 12 anos de um Governo onde essas questões passaram
a ganhar espaço em termos de processo decisório positivo?”.
Outros temas
polêmicos tratados pelo Ibope são a pena de morte - 46% são a favor e 49% são
contra; e o Bolsa Família, programa criado pelo governo do ex-presidente Lula,
que tem apoio de 75% dos brasileiros. Entre os que têm renda mensal de até um
salário mínimo, o apoio ao Bolsa Família chega a 90%, segundo o levantamento.
Aécio
Neves, do PSDB, já afirmou em sua propaganda política na televisão que, se
eleito, dará continuidade ao principal programa petista. Quando um
tema tem grande aceitação, defendê-lo parece mais fácil.
Segundo
a pesquisa, os homens são a maioria entre os que são contra o casamento gay: 58%.
Já entre as mulheres, 49% são contra e 44% a favor. A descriminalização da
maconha e do aborto não são defendidos nem mesmo pelos mais jovens. Entre
aqueles com idade entre 16 e 24 anos, 74% são contra a legalização da maconha e
77% contra o aborto.
Fonte: brasil.elpais
Nenhum comentário:
Postar um comentário
ATENÇÃO LEITOR: O Blog não se responsabiliza pelas opiniões e comentários. Em geral, o nosso Blog não analisa nem endossa o conteúdo dos comentários, principalmente os comentários postados pelo Facebook; Não permitimos o uso de linguagem ofensiva, spam, fraude, discurso de violência, comportamento violento ou negativo, conteúdo sexualmente explícito ou que invada a privacidade de alguém.
IMPORTANTE: Este Blog aceita comentários anônimos mas repudia a falsidade ideológica. Recomendamos aos leitores utilizarem o seu nome, sobrenome e e-mail (caso tenha algum), dos quais sejam legítimos para identificação.
Seu comentário será enviado para o moderador.