Toda
essa explicação foi dada pelo próprio Zé Ramalho.
Você já parou alguma vez na
vida para tentar entender esta música tão complexa? Zé Ramalho consegue ser um
dos poucos cantores que compõe músicas com alto repertório (de difícil
entendimento) e mesmo assim agrada o gosto popular. Consegue transmitir sentimentos.
Explicação dada, em tese,
pelo próprio compositor, O GRANDE POETA ZÉ RAMALHO, sobre Chão de Giz:
"Ainda jovem, o
compositor teve um caso duradouro com uma mulher bem mais velha que ele, casada
com uma pessoa bem influente da sociedade de João Pessoa, na Paraíba, onde ele
morava. Ambos se conheceram no carnaval. Zé Ramalho ficou perdidamente apaixonado
por esta mulher, que jamais abandonaria um casamento para ficar com um “garoto
pé -rapado”. Ela apenas “usava-o”. Assim, o caso que tomava proporções enormes
foi terminado. Zé Ramalho ficou arrasado por meses, mudou de casa, pois morava
perto da mulher e, nesse meio tempo, compôs Chão de giz".
Sabendo deste pequeno resumo
da história, fica mais fácil interpretar cada verso da canção. Vamos lá!
“Eu desço desta solidão e
espalho coisas sobre um chão de giz”
Um dos seus hábitos, no
sofrimento, era espalhar pelo chão todas as coisas que lembravam o caso dos
dois. O chão de giz indica como o relacionamento era fugaz.
“Há meros devaneios tolos, a
me torturar”
Devaneios e lembranças da
mulher que não o amou. O tinha como amante, apenas para realizar suas
fantasias. Quando e como queria.
“Fotografias recortadas de
jornais de folhas amiúdes”
Outro hábito de Zé Ramalho
era recortar e admirar TODAS as fotos dela que saiam nos jornais – lembrem-se,
ela era da alta sociedade, sempre estava nas colunas sociais.
“Eu vou te jogar num pano de
guardar confetes”
Pano de guardar confetes são
balaios ou sacos típicos das costureiras do Nordeste, nos quais elas jogam
restos de pano, papel, etc. Aqui, Zé diz que vai jogar as fotos dela nesse tipo
de saco e, assim, esquecê-la de vez.
“Disparo balas de canhão, é
inútil, pois existe um grão-vizir”
Ele tenta ficar com ela de
todas as formas, mas é inútil, pois ela é casada com um homem muito rico.
“Há tantas violetas velhas
sem um colibri”
Aqui ele utiliza de uma
metáfora. Há tantas violetas velhas (Como ela, bela, mas velha) sem um colibri
(um jovem que a admire), dessa forma ele tenta novamente convencê-la apelando
para a sorte – mesmo sendo velha (violeta velha), ela pode, se quiser, ter um
colibri (jovem).
“Queria usar, quem sabe, uma
camisa de força ou de vênus”
Este verso mostra a
dualidade do sentimento de Zé Ramalho. Ao mesmo tempo que quer usar uma camisa
de força para se afastar dela, ele também quer usar uma camisa de vênus para
transar com ela.
“Mas não vou gozar de nós
apenas um cigarro”
Novamente ele invoca a fugacidade do amor dela por ele, que o queria apenas para “gozar o tempo de um cigarro”. Percebe-se o tempo todo que ele sente por ela um profundo amor e tesão, enquanto é correspondido apenas com o tesão, com o gozo que dura o tempo de se fumar um cigarro.
“Nem vou lhe beijar,
gastando assim o meu batom”
Para quê beijá-la, se ela
quer apenas o sexo?
“Agora pego um caminhão, na
lona vou a nocaute outra vez…”
Novamente ele resolve ir
embora, após constatar que é impossível tentar algo sério com ela. Entretanto,
apaixonado como está, vai novamente à lona – expressão que significa ir a
nocaute no boxe, mas também significa a lona do caminhão, com o qual ele foi embora
– ele teve que sair de casa para se livrar desse amor doentio.
“Pra sempre fui acorrentado
no seu calcanhar”
Amor inesquecível, que
acorrenta. Ela pisava nele e ele cada vez mais apaixonado. Tinha esperanças de
um dia ser correspondido.
“Meus vinte anos de ‘boy’ –
that’s over, baby! Freud explica”
Ele era bem mais novo que ela. Ele era um boy, ela era uma dama da sociedade. Freud explica um amor desse (Complexo de Édipo, talvez?).
“Não vou me sujar fumando
apenas um cigarro”
Depois de muito sofrimento e
consciente que ela nunca largaria o marido/status para ficar com ele, ele
decide esquecê-la. Essa parte ele diz que não vai se sujar transando mais uma
vez com ela, pois agora tem consciência de que nunca passará disso.
“Quanto ao pano dos
confetes, já passou meu carnaval”
Eles se conheceram em um
carnaval. Voltando a falar das fotos dela, que iria jogar em um pano de guardar
confetes, ele consolida o fim, dizendo que já passou seu carnaval (fantasia),
passou o momento.
“E isso explica porque o
sexo é assunto popular”
Aqui ele faz um arremate do
que parece ter sido apenas o que restou do amor dele por ela (ou dela por ele):
sexo. Por isso o sexo é tão popular, pois apenas ele é valorizado. Ela só
queria sexo e nada mais.
“No mais, estou indo embora”
Assim encerra-se a canção. É
a despedida de Zé Ramalho, mostrando que a fuga é o melhor caminho e uma
decisão madura. Ele muda de cidade e nunca mais a vê. Sofreu por meses,
enquanto compôs a música.
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