O Globo: A
presidente Dilma Rousseff atrasou o embarque para os Estados Unidos, previsto
para as 9h, e convocou ministros para uma nova reunião nesta manhã de sábado
para avaliar o impacto do conteúdo da delação premiada do empresário Ricardo
Pessoa, da UTC. A reunião da presidente com os ministros José Eduardo Cardozo
(Justiça), Aloízio Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Secom) terminou por
volta de 10h20. A presidente já embarcou para os EUA, em meio ao clima de
apreensão provocado pelas denúncias. O Planalto deve se pronunciar oficialmente
ainda neste sábado sobre as denúncias do empreiteiro.
Esta
foi a segunda reunião de Dilma sobre o assunto em menos de 24 horas. O ministro
Edinho Silva, que iria viajar a São Paulo na noite de sexta-feira, foi obrigado
a ficar em Brasília e também participou do encontro.
Dilma
deixou o Palácio da Alvorada, às 10h20, acompanhada apenas da filha Paula, em
direção à Base Aérea de Brasília, de onde embarca para os EUA, em visita na
qual terá encontro com o presidente Barack Obama, entre outros compromissos.
A
crise não impediu que, logo cedo, Dilma saísse para pedalar nos arredores do
Alvorada na manhã deste sábado, acompanhada por seguranças. O helicóptero que a
levará a base aérea já aguarda no gramado, e ela deve embarcar a qualquer
momento.
A
delação premiada de Ricardo Pessoa, dono das construtoras UTC e Constran e
apontando como chefe do “cartel das empreiteiras” que fatiou os contratos da
Petrobras, provocou, ainda na sexta-feira, apreensão no Palácio do Planalto.
Ela convocou Cardozo, Mercadante, Edinho Silva (Comunicação Social), além do
assessor especial Giles Azevedo, para avaliar o impacto da delação sobre o
governo.
No
depoimento, o empreiteiro listou como beneficiários de recursos a campanha da
presidente Dilma Rousseff em 2014; a campanha do ex-presidente Lula em 2006; a
campanha de Mercadante, ao governo de São Paulo em 2010; e mais cinco senadores
e três deputados federais. O Ministério Público Federal e a PF agora vão
investigar se as doações foram legais ou se houve irregularidades.
A
lista dos que receberam as verbas foi publicada nesta sexta-feira à noite pelo
site da revista “Veja” e confirmada pelo GLOBO junto a duas fontes com acesso
às investigações em curso no Supremo Tribunal Federal (STF).
No
detalhamento do depoimento dado a Procuradoria Geral da República, publicado
pela revista Veja, Pessoa conta como teria abastecido as contas das campanhas
da presidente Dilma Rousseff, em 2014, e do ex-presidente Lula, em 2006. Os
cinco dias de depoimento renderam uma planilha com 40 anexos de documentos
mostrando o caminho do dinheiro do esquema de desvios da Petrobras. Pessoa
teria dito que, em 2014, foi “abordado de forma bastante elegante” em três
encontros com o então tesoureiro da campanha e hoje ministro da Secom, Edinho
Silva. Parte do dinheiro repassado teria sido feito na conta de um funcionário do
Planalto, Manoel de Araújo Sobrinho.
“O
Edinho me disse: você tem obras na Petrobras e tem aditivos, não pode só
contribuir com isso. Tem que contribuir com mais. Estou precisando”, diz Pessoa
no depoimento, segundo a Veja. A partir das conversas, ele teria providenciado
o repasse de R$10 milhões, repassados ao servidor do Palácio do Planalto,
Manoel de Araújo Sobrinho. Pelas planilhas entregues a PGR, foram feitos dois
depósitos de R$2.5 milhões , em 5 e 30 de agosto de 2014. Depois desses
depósitos, segundo a revista, o funcionário do Planalto acertou outro repasse
de R$5 milhões para o caixa eleitoral de Dilma. Metade desse valor foi
entregue, e a outra parte seria paga depois da eleição, mas foi preso antes.
No
detalhamento sobre os repasses para a campanha de reeleição de Lula em 2006,
quando ele venceu a disputa com Geraldo Alckmin em pleno mensalão, Pessoa teria
dito que acertou com seu tesoureiro, José de Filippi Júnior um esquema
clandestino para entregar, em dinheiro vivo, R$2.4 milhões no comitê do então
candidato. O dinheiro teria sido internalizado de uma conta na Suiça do
consórcio Quip, formado pela UTC, Camargo Correa, Iesa, e Queiroz Galvão, que
mantém contratos milionários com a Petrobras para construção de plataformas.
No
relato que teria feito ao procurador Rodrigo Janot, ele , o executivo da UTC
Walmir Pinheiro e um emissário de confiança levavam pessoalmente o dinheiro ao
comitê presidencial de Lula. Para não chamar a atenção, combinaram em uma
choperia uma senha entre o pagador e o beneficiário. Quando chegava com os
pacotes, o emissário dizia a senha “tulipa”, e só era levado a sala de Fillipi
se recebesse de volta a contra-senha “caneco”. Pessoa, segundo Veja, entregou
todas as planilhas sobre essa movimentação.
Segundo
Veja, o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Netto, é citado em várias partes da
delação de Ricardo Pessoa: cobrando propina, recebendo propina e tratando sobre
pagamento de propina. A pedido do ex-diretor de serviços da Petrobras, Renato
Duque, ele passou a tratar diretamente com Vaccari.
“Bastava
a empresa assinar um novo contrato com a Petrobras que o Vaccari aparecia para
lembrar: como fica nosso entendimento político?”. Segundo a revista, Ricardo
Pessoa explicou, em seu depoimento de cinco dias, que Vaccari não gostava da
palavra “propina” e se referia aos pagamentos como “pixuleco”. Nos encontros,
rabiscava valores e os percentuais no papel e o entregava para o interlocutor
.”Vaccari picotava a anotação e distribuía os pedaços em lixos diferentes”, diz
o depoimento de Pessoa. Mas teria sido tudo filmado.