O Globo: Aquela
sensação de ansiedade sentida por diversas pessoas quando a bateria do celular
acaba e se está longe da tomada, o sinal de internet móvel cai, ou o aparelho é
esquecido em algum lugar, já é conhecida por um nome específico nos
consultórios psiquiátricos, tão frequentes são os casos de queixa sobre ela:
trata-se da nomofobia, uma espécie de medo e angústia de se ficar off-line.
Diante da intensificação do fenômeno, o professor de psiquiatria titular da
UFRJ Antônio Egídio Nardi realiza nesta quinta-feira, às 20h, uma palestra
aberta ao público sobre o tema no Espaço Clif, em Botafogo.
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O uso abusivo do celular, e também de novos meios de comunicação virtuais, vem
sendo muito discutido entre os especialistas, tendo em vista o grande número de
queixas sobre ele que têm chegado aos consultórios. É um fenômeno novo, que
ainda está sendo analisado e pesquisado, e que não sabemos ainda até que ponto
é um sinal de adaptação a um contexto novo, de hiperconectividade, ou de fato
uma patologia — explica Nardi.
Apesar
de já adotado no meio acadêmico, a nomofobia ainda não é tida como uma
patologia oficial por ser um fenômeno muito recente e ainda em estudo. Por
isso, afirma Nardi, os especialistas precisam ter cuidado para não enxergar
doenças ou distúrbios onde não existem — o que, segundo ele, não anula os casos
concretos de pessoas viciadas no uso de celular:
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A ansiedade por si só possui uma função saudável para as pessoas. O problema é
quando essa ansiedade transborda e torna-se patológica, limitando e
atrapalhando o indivíduo, com sintomas físicos e psíquicos de angústia. Nesse
sentido, a nomofobia se encaixaria em um tipo de ansiedade patológica chamada
de fobia específica. No caso, o medo de ficar desconectado.
Mais
do que um mal em si, a nomofobia deve ser vista como um sinal de outros
transtornos, afirma Nardi.
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Observo que, em muitos casos, o uso obsessivo do celular acaba sendo uma
bengala para outros tipos de transtornos. Há casos de pessoas que têm
transtorno de pânico, e encontram em seus smartphones uma segurança para sair
de casa e realizar atividades, e por isso ficam o tempo todo no aparelho. O
mesmo comportamento é observado em pessoas patologicamente tímidas, por
exemplo.
Em
geral, o tratamento da nomofobia é feito por meio do que o psiquiatra chama de
psicoterapia cognitiva comportamental, que busca ajudar o indivíduo a procurar
uma estratégia para melhorar a sua qualidade de vida.
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São poucos casos que envolvem a prescrição de medicamentos. Em geral, a terapia
com um profissional de psiquiatria já consegue apresentar melhoras na qualidade
de vida dos pacientes.
As
inscrições para a palestra de Nardi sobre o tema são gratuitas e podem ser
feitas pelo e-mail recepcao@spacoclif.com.br e pelo telefone 3439-7751. O
Espaço Clif fica na Rua das Palmeiras, 46, em Botafogo.
