Fezes de mais de 80.000 galinhas colocaram uma frota de 37 veículos para rodar nesta quinta-feira em Foz do Iguaçu, no Paraná. Os veículos foram abastecidos com o gás biometano, que é gerado a partir da decomposição dos dejetos das aves.
A iniciativa partiu de um grupo de pesquisadores da usina hidrelétrica de Itaipu, que já chegou a desembolsar 20 milhões de reais no projeto, iniciado há cinco anos. Tudo começou quando a instituição percebeu que o rio Paraná estava sendo poluído por fezes de animais criados na região, onde predomina o agronegócio. Sabendo do potencial energético do metano, os pesquisadores desenvolveram uma maneira de dar um fim mais nobre para o gás, que é altamente prejudicial ao meio ambiente.
As fezes são recolhidas de uma granja em Foz do Iguaçu, localizada a cem quilômetros da usina, e lançadas em um recipiente chamado de biodigestor. Ali, elas passam por um processo de fermentação e filtragem, de onde três gases são liberados – carbônico (CO2), sulfídrico (H2S) [o do cheiro de ovo podre] e o metano. Separado os gases, o metano é colocado em cilindros e transportado para Itaipu, que a partir de ontem passou a abastecer 14% da sua frota de carros com o biocombustível. A matéria física dos dejetos é aproveitada para fazer fertilizantes.
Segundo o presidente do Centro Internacional de Energia Renováveis Biogás (CBiogás), Rodrigo Regis, 84.000 aves produzem aproximadamente 1.000 metros cúbicos de gás biometano por dia. “Isso dá para a abastecer toda a frota de táxi de Foz do Iguaçu”, calcula ele. O rendimento do biometano é equivalente ao do GNV (Gás Natural Veicular), que é derivado do petróleo, e 1,4 vezes maior do que o do etanol. “Enquanto com o etanol dá para rodar em média 8 quilômetros, com o biometano, eu ando 14 quilômetros”, disse Regis.
O custo também é menor. Segundo o superintendente de Energias Renováveis de Itaipu, Herlon Goelzer, cada metro cúbico por quilômetro rodado de metanol vale 0,24 centavos. Já o etanol é de 0,27 centavos por litro, de acordo com os preços praticados em Foz. “Nós vislumbramos que podemos vir a fornecer a partir de 2016 para a frota comercial”, afirmou Goelzer. Segundo ele, o principal objetivo é tornar as fazendas da região independentes energeticamente. “Além do uso veicular, o biogás também substitui a lenha para secagem dos grãos e o GLP (gás liquefeito de petróleo) para movimentar motores”. O gás ainda pode ser queimado para gerar energia térmica.
Não é só dos dejetos das galinhas que dá para produzir energia. Fezes de porco, vaca e até de seres humanos também podem ser aproveitadas para o fim. A diferença é que os dejetos das galinhas têm um potencial energético muito maior que os dos outros animais. Goelzer lembra da montanha de cocô que é produzido no Brasil anualmente. “Estima-se que o país produza 20 bilhões de metro cúbico de biometanol por ano. Oito bilhões disso é originado de animais e resíduos agrícolas”, afirma. “Imagina o potencial energético que está sendo desperdiçado.”