terça-feira, 1 de setembro de 2015

Miguel Lourenço, um dos primeiros habitantes de Japi

O ex-vereador Edson Batista, em seu livro, fala sobre os primeiros habitantes de Japi. Veja abaixo:


Leôncio Miguel.
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O objetivo de fazer este comentário é para mostrar aos amigos japienses, e pedir aos nossos colegas veadores para elaborar um projeto de lei trocando o nome da Rua 13 de Maio para Rua Miguel Lourenço, tendo em vista que ele foi o primeiro morador da citada rua e ele é o Patriarca da família mais antiga e mais numerosa desta cidade.

Comentários transcritos do primeiro capítulo do livro (HISTÓRIA DE JAPI, páginas 9 a 20), de autoria do professor e escritor: EDSON BATISTA DOS SANTOS.

Informantes: os senhores, Leôncio Miguel e o meu amigo, o poeta João Pedra.

Quero informar que no meu livro há dez capítulos, sendo que um deles é intitulado os primeiros habitantes, no qual há comentários de 22 famílias, cuja Família Miguel é uma delas. Quero também informar para todos os filhos de Japi que este livro está sendo revisado pelos doutores e professores da UFRN: Mona Lisa (literatura e semântica) e José da luz (sintaxe e gramática). Analisado e oferecimento, Francisco Medeiros (mestre em Língua Portuguesa). Lançamento previsto para o mês de novembro deste ano, 2015. 

OS PRIMEIROS HABITANTES I. 

MIGUEL LOURENÇO CHEGA À LOCALIDADE DE JAPI

Segundo Leôncio Miguel, na metade do XIX, por volta 1855, Lourenço como era conhecido, que morava na Paraíba, na localidade da Carnaúba, próximo ao limite com Rio Grande do Norte, o qual já tivera passado algumas vezes pela região de Japi, sabia que as terras que ficavam às margens do Rio Jacu eram devolutas e que também eram muito boas para pastagem de gado. Por isso, ele trouxe seu primeiro filho, conhecido pelo nome de Miguel Lourenço, o qual estava decidido a morar na localidade de Japi. 

Quando Lourenço e seu filho chegaram às terras japiense, eles construíram logo uma casinha no meio da mata, próxima à margem direita do Rio Jacu. A casa ficava de frente para o norte, perto dela, na direção do Oeste existia um pé de quixabeira. Anos mais tarde, o pai de Leôncio, Chico Miguel, demoliu esta casa e a reconstruiu quase no mesmo lugar, dessa vez a frente da casa ficou praticamente debaixo da quixabeira. Esta casa era de taipa, e no ano de 1997, após o falecimento de Chiquinha Miguel, viúva de Chico Miguel, ela também foi derrubada. Quem a derrubou foi João Miguel e sua esposa Maria Miguel e no lugar dela eles construíram uma nova casa onde Maria mora até hoje. 

Esta casa passou por três transformações como já foi citado. Ela foi uma das primeiras casas a ser construída na área que hoje pertence à zona urbana deste município e a primeira, na Rua 13 de Maio, cujo nome deve ser mudado para: Rua Miguel Lourenço em homenagem ao desbravador das terras japienses e patriarca da família Miguel.

O ENCONTRO DE MIGUEL LOURENÇO COM JOSEFA LOURENÇO 

Segundo o senhor Leôncio Miguel, naquela época, às terras que ficava ao leste do Rio Jacu, estavam abandonadas. Por isso Miguel Lourenço se apossou de uma boa parte delas onde construiu uma casa, botou um roçado de lavouras: de feijão, milho, mandioca, fava e também criava alguns animais.

Quando Miguel Lourenço chegou às terras de Japi, era ainda um jovem solteiro. Certo dia, ele resolveu ir ao Agreste, vender duas novilhas de boi. Botou a sela na “burra mula”, montou-se e foi tangendo os animais. Quando chegou lá, na cidade de Nova Cruz encontrou uma jovem que se chamava Josefa a qual conquistou seu coração. Porém, no mesmo dia em que se conheceram Miguel carregou a jovem para sua localidade, a qual veio montada na garupa da burra para a localidade de Japi e nunca mais esta jovem voltou para a sua região, nem sequer mandou notícias. Deste casal surgiram várias famílias as quais povoaram quase toda a área urbana do Município de Japi e parte da Zona Rural. Hoje, as pessoas dessas famílias constituem a maior parte da sociedade japiense.

Famílias como: os Geraldos, os Miguéus, os Catirinas, os Barbosas, os Lourenços, os Vaginovas, os Carias os Nicolaus de Pedras Pretas e os Paulinos, são descendentes de Miguel Lourenço. 

A FAUNA E A FLORA DA ÉPOCA DE MIGUEL

Na época em que Miguel Lourenço veio morar nesta região, a fauna e a flora eram muito ricas. Na extensão das margens do Rio Jacu, de um a outro boqueirão, principalmente próximo à residência de Miguel Lourenço, existia uma grande mata. Árvores como: Baraúnas, Aroeiras, Umbuzeiros, Angicos, Cal-beiras, Oiticicas, Mulungus etc. Faziam daquela região, uma área de grande floresta escura que causava certos receios e medos. Era comum se ouvir o rugir de onças e pegadas delas por todas as partes da mata. Além das onças, outros fatores causavam medo àquelas pessoas: a seca, as pragas e as doenças.

Naquela época várias pessoas encontraram no pé da serra do Boqueirão, montes de pedras, e no interior desses montes achavam-se carvões, levando a supor que aqueles arrumados de pedras eram feitos pelos índios, provavelmente quando morria um de seus entes queridos. Segundo pessoas mais antigas da região, isto era uma prática comum entre eles, queimarem os seus cadáveres. Atualmente ainda existem pessoas na comunidade de Japi, as quais encontraram alguns desses arrumados de pedras.

Nesta época, ao descer do sol, quando já era tardinha, Miguel olhava para o Vale do Jacu e também para os campos onde contemplava algumas emas correndo em direção do boqueirão e também bandos de Pássaros voando como: papagaios, periquitos, xexéus, canários, jacus, arribaçãs, marrecos e outras espécies. 

O roçado de Miguel era próximo ao Rio Jacu, onde hoje se encontra a praça da cidade, na Rua Manoel Medeiros. Naqueles dias, do seu roçado, Miguel via passar muito próximo dele: Nambus, Asas Brancas, Preás, Rolinhas, Juritis e outros tipos de animais. Quando ele ia “caçar” nem precisava se afastar muito de sua casa, isto é, para matar algum animal para se alimentar. Certo dia, Miguel matou um tamanduá em cima do telhado de sua casa.

OS PROPRIETÁRIOS QUE VIVERAM NA LOCALIDADE DE JAPI ANTES DE MIGUEL LOURENÇO

Segundo João Pedra e o senhor “Bajau”, antes de Miguel, já haviam morado na localidade de Japi, outros posseiros. Isso no período de 1780 a 1850: Zé de Góes, O Cruz, Belo Monte, Adelino e outros que provavelmente foram quem construiu o cemitério de Japi, pois até os dias de hoje, ninguém sabe ao certo quem o construiu.

Francisco “Berato” (Chico Berato), um dos anciãos mais idosos que eu entrevistei no ano de 2004, ao se referir ao cemitério fez a seguinte declaração: – ninguém sabe realmente quem o construiu. Sei que o primeiro homem que foi sepultado nele foi morto por consequência de uma picada de cobra. Nesse mesmo dia o ancião Chico Berato ainda me disse que na porta do cemitério, na parte de dentro, existia uma pequena capela a qual hoje não existe mais.

Segundo João Pedra, Zé de Góes e O Cruz, possuíram as terras que começavam onde hoje ficam as fazendas: de Amadiz, do senhor Antônio Medeiros e ia até as regiões do: Brandão e os Picotes, englobando a Vaca Morta e Ubaia. Belo Monte possuía as terras que se encontra entre o Riacho Paturá e o Rio Jacu, indo um pouco, em direção ao pé da Serra Grande. É importante ressaltar que hoje essa área é conhecida pelo nome de “Belo Monte”. Adelino possuía as terras que começava onde hoje fica a parte central da cidade de Japi, atravessava o Rio Jacu, onde se encontram as “Pedras de Zé Medeiros”, ocupando toda a área que é conhecida pelo nome de Sítio Novo, Cazuzão, Lama, e a região onde hoje fica o cemitério, o qual, dizem que pode ter sido construído por ele.

Nesta época, Adelino morava na casa que há poucos anos atrás, morou Napoleão que é irmão da mulher do já falecido “Chico Pedro”. Já faz 29 anos que essa casa foi demolida. Se sairmos das Pedras de Zé Medeiros e formos à direção do poente, encontraremos há 200 metros, os escombros desta antiga residência.

Na metade do século XIX por volta de 1858, o fazendeiro “O Costa,” como era conhecido, o qual já foi citado antes, possuía uma propriedade a qual começava no “pé da serra do Boqueirão” e se estendia um pouco em direção do Riacho Paturá. Esse senhor tinha boas condições e na fazenda dele, Miguel Lourenço trabalhava como vaqueiro.

O BOI QUE QUEBROU O PESCOÇO

È importante ressaltar que esta e outras histórias relatadas neste livro chegaram até nossos dias por intermédio de pessoas muito inteligentes, que vieram trazendo este episódio vivo em suas memórias e contando a seus filhos e netos até o dia de hoje. O exemplo disso é a Família Pedra.

No dia em que estive na casa do meu amigo João Pedra, ele me contou uma história a qual ocorreu no ano de 1865. Leia o fato: certo dia, Miguel foi buscar alguns animais que estavam lá em cima da Serra Grande, e quando já vinha descendo esta serra, tangendo vários animais, dois bois começou brigar, quando os mesmos se encontravam em cima de um lajedo “lajeiro”. De repente, um dos touros foi jogado pela força do outro num abismo o qual quebrou o pescoço. Miguel vendo que o touro estava morrendo, rapidamente veio avisar ao seu patrão, que depois de explicar-lhe como o fato aconteceu imediatamente o seu patrão respondeu: está certo, Miguel. Vá a sua casa, pegue seu facão, seu machado e o que for preciso. Tire o couro do boi e mande deixa-lo aqui. O resto leve tudo para sua casa. E assim Miguel fez. Chegando a sua casa, levou toda a sua família ao local aonde o fato ocorreu, tirou o couro do animal, mandou deixar na fazenda do Costa (patrão dele) e levou toda a carne deste animal para a sua casa. No mesmo dia, ele partiu com destino à região da Paraíba para comprar sal para salgar toda carne, pois era tanta, que durante quase um mês a casa de Miguel ficou rodeada de carne.

Veja nos quadros abaixo a genealogia da família Miguel Lourenço:


FILHOS DE MIGUEL E JOSEFA LOURENÇO


HOMENS
MULHERES


Félix Lourenço
Vicência Lourenço Geraldo


Antônio Lourenço
Aninha Lourenço Geraldo


José Lourenço
Maria Lourenço


Francisco Lourenço (Chico Miguel)
Apolinária Lourenço Geraldo


Valério Lourenço
-


NETOS DE MIGUEL E JOSEFA LOURENÇO FILHOS DE FRANCISCO LOURENÇO

HOMENS
MULHERES

José Miguel
Elvira Miguel

Antônio Miguel
Maria Miguel

Manoel Miguel
Veneranda Miguel

Severino Miguel
Francisca Miguel

João Miguel
-

Leôncio Miguel
-
NETOS DE MIGUEL E JOSEFA LOURENÇO FILHOS DE JOSÉ LOURENÇO

HOMENS
MULHERES

Manoel Lourenço da Costa (Mané Lambeque)
Regina Lourenço da Costa

Antônio Lourenço da Costa
Margarida Lourenço da Costa

Francisco Lourenço da Costa (Chico Lourenço)
Maria Lourenço da Costa

Damião Lourenço da Costa
Damiana Lourenço da Costa

Toro Lourenço
-





NETOS DE MIGUEL E JOSEFA LOURENÇO FILHOS DE VICÊNCIA LOURENÇO GERALDO

HOMENS
MULHERES

Francisco Geraldo (Chico Geraldo)
Mariana Geraldo

José Antônio
Maria de Antônio Geraldo

João Geraldo
Conceição Vaginova

NETOS DE MIGUEL E JOSEFA LOURENÇO FILHOS DE ANINHA LOURENÇO

HOMENS
MULHERES

Manoel Geraldo
Francisca de Antônio Catirina mãe de Nova de Amaro Caterina.

Cícero Geraldo (Cição)
Maria Geraldo de A. do Remédio

Cícero Geraldo (Cicim)
Joana de Chico Geraldo (Mãe de Caboclo)

                                           
Lia Geraldo, a caçula da família de A -

NETOS DE MIGUEL E JOSEFA LOURENÇO FILHOS DE MARIA BARBOSA

HOMENS
MULHERES

Severino Barbosa
Maria Barbosa (Esposa de Manoel Dantas que é pai Ezequias Dantas)





Falei novamente com o senhor Leôncio Miguel, e na oportunidade ele me disse que em 1918, Miguel Lourenço possuía aproximadamente 80 anos de idade e já estava muito doente. Disse também que a terra que pertenceu a seu avô ocupava boa parte do município de Japi: começava ao lado da casa que hoje pertence ao senhor Minel; descia pela “Cachoeira de Jodoval” Medeiros e ia à direção do poente, acompanhando o Rio Jacu até próximo ao Boqueirão; subia na Serra Grande e esbarrava com as terras que hoje pertence aos herdeiros do já falecido Geraldo Anselmo Pinheiro e ocupava toda região do Paturá.

MANOEL MEDEIROS COMPRA A TERRA DE MIGUEL LOURENÇO

Manoel José de Medeiros lutava muito para comprar as terras de Miguel Lourenço. Normalmente Manoel visitava a casa do senhor Miguel Lourenço, principalmente na parte da tarde. Segundo Leôncio, neto do velho Miguel, toda vez que Manoel José de Medeiros ia à casa de seu avô (Miguel Lourenço) e que tocava no assunto da compra da terra, Miguel falava assim: – Essa terra não vendo não Manoel, porque já estou muito velho, cansado e doente. Por isso, tenho a certeza de que estou perto do fim, como eu tenho muitos filhos, vou deixá-la para eles, para que no futuro eles possam trabalhar em suas próprias terrinhas. Certo dia, quando Miguel Lourenço assim falou, Manoel Medeiros o respondeu: – Não se preocupe Miguel, se você me vender essa terra seus filhos irão morar e trabalhar nela, todos os tempos e ninguém irá mexer com eles. De um lado se percebe uma luta consistente de Manoel Medeiros tentando convencer o senhor Miguel Lourenço a vender sua terra. E do outro se percebe Miguel tentando livrar-se da venda e deixa-la para os seus descendentes. 

Segundo os senhores Leôncio Miguel e Antônio Lourenço, Manoel Medeiros tentava conquistar o velho de qualquer jeito. Eles me disseram no ano de 2004, que certo dia, Manoel Medeiros foi à casa de Miguel Lourenço como era de costume e na ocasião ele deu uma moeda para o velho e disse: – Miguel, isso aí é para você comprar fumo para você fumar no seu cachimbo. Manoel sabia muito bem que Miguel era fumador e que naquele momento não possuía dinheiro para comprar nem se quer um pedaço de fumo. Cheio de alegria Miguel falou a sua esposa: – Olha Zefinha! “Sou cativo do agrado”. Quando Manoel Medeiros voltar novamente aqui, vou vender a terra que possuo a ele. E assim Miguel fez. No outro dia, ao entardecer, Manoel Medeiros chegou à casa de Miguel Lourenço, como era de costume e na ocasião comprou toda a terra de Miguel por uma quantia que hoje os netos e bisnetos de Miguel ignoram: “duzentos mil réis e dois garajás de rapaduras”. Segundo Antônio Lourenço, homem já falecido, esse fato ocorreu em 17 de outubro de 1920.

MORRE ANTÔNIO LOURENÇO

Noutro dia estive a residência do senhor Antônio Lourenço e na oportunidade ele me falou: – Minha mãe me disse por várias vezes, que no dia em que eu nasci infelizmente o meu avô, Miguel Lourenço morreu. E isso ocorreu em 26 de abril de 1926. E foi a partir dessa informação que se sabe quando morreu o grande desbravador, Miguel Lourenço.

Quando Antônio Lourenço me disse essas palavras, no início de 2005, encontrava-se muito enfermo e quase não andava mais. A enfermidade de Antônio Lourenço o levou a óbito, meses depois, no dia 25 de maio de 2005. Ele morreu em sua residência e foi sepultado no cemitério de Japi, onde também foram sepultados os seus pais e avós.

Observação: segundo Leôncio quando Miguel Lourenço da Costa faleceu a sua esposa Josefa, já tinha falecido anos atrás.

Após a morte de Miguel Lourenço, Francisco Lourenço (Chico Miguel) que era um dos filhos mais novo da família e pai do informante Leôncio Miguel, foi morar juntamente com sua esposa e filhos na casa que morou seus pais (Miguel e Josefa Lourenço).

OS HERÓIS DESBRAVADORES DA SERRA GRANDE: (ANINHA GERALDO JOAQUIM GERALDO E O FILHO MANOEL GERALDO)

Para compreender melhor o heroísmo deste casal, é necessário que leia a descrição das árvores genealógicas de duas famílias: 1ª a de Joaquim Geraldo Alves da Costa casado com Ana Lourenço da Costa (Aninha Geraldo), que é filha do grande desbravador, Miguel Lourenço.

Essa primeira família, que surgiu da união matrimonial de Joaquim Geraldo com Aninha Lourenço teve sete filhos que foram: Manoel Geraldo (Cicim), Cícero Geraldo (Cição), Joana Geraldo, Chiquinha mãe de Nova de Amaro Catirina, Maria Geraldo e Lia Geraldo a Caçula. 

A segunda família, que surgiu da união matrimonial de Antônio Geraldo Alves da Costa (Antônio Geraldo) com Vicência Lourenço da Costa (Vicência Geraldo), que também é filha do grande desbravador Miguel Lourenço, foi: Francisco Geraldo (Chico Geraldo), João Geraldo, Conceição Geraldo, Mariana Geraldo e Maria Geraldo.

Como percebemos: Joaquim é irmão de Antônio Geraldo e Aninha Lourenço de Vicência. Agora vou me deter mais na história de Aninha Geraldo, porque entre tantos da família de Miguel Lourenço só ela conseguiu permanecer em sua terra (a chã da Serra Grande). Aninha Geraldo deixou essa terra como herança para seus filhos. Foi ela e seus filhos, principalmente Manoel Geraldo, Cujo já era um rapaz, quem enfrentaram grandes dificuldades: ameaças, insultos etc., por parte de alguém que queria invadir e tomar sua terra.

Na 2ª metade do século XIX, por volta de 1887, Joaquim Geraldo Alves da Costa e Aninha sua esposa, moravam na casa que hoje pertence ao proprietário Amadiz, Filho de Antônio Nunes. Nesta casa, há poucos anos atrás morou o senhor “Viturino Brimudo”. 

A MORTE DE JOAQUIM GERALDO

Segundo Francisco Alves da Costa (Chicão) e seu primo “Nune”, Joaquim Geraldo (avô dos dois), Joaquim Geraldo morreu em 1902, debaixo de um pé de umbu que fica na beira dos tanques do Costa, um proprietário antecessor de Joaquim Geraldo. Francisco e Nune afirmam ainda, que Joaquim Geraldo vinha da Paraíba, aonde ia costumeiramente, porque lá ele possuía um roçado conhecido pelo nome de: “roça de farinha”.

Logo que a notícia da morte de Joaquim chegou à fazenda de Pedro Tolentino, seu genro Manoel José de Medeiros, que tinha se casado recentemente com Torquata Leopoldina da Costa, veio juntamente com algumas pessoas, buscar o corpo do falecido, o qual foi dentro de uma rede, pendurado em uma estaca bem comprida, levado por pessoas amigas e familiares, até o cemitério do povoado de Japi onde foi sepultado.

Segundo Chicão, na entrevista que fiz a ele no ano de 2005, na companhia de Dedé de Estelina, quando o visitei na sua residência lá na Serra Grande, inclusive tenho uma filmagem desse fato, disse que após a morte de seu avô Joaquim Geraldo, houve um proprietário que tentou tomar toda a terra que pertencia a sua avó, a viúva Aninha Geraldo.

A terra de Aninha Geraldo, ocupava uma área de 97 hectares. Embora Aninha estivesse quase só, acompanhada apenas pelos seus 7 filhos, quando todos ainda eram crianças, sendo o mais velho, Manoel Geraldo, com apenas 14 anos de idade, ela não temeu as pressões e ameaças feitas por esse proprietário. Chicão afirmou ainda, que após a morte de Joaquim Geraldo, Aninha continuou na casa do pé da serra por vários meses, depois, ela não aguentou mais os insultos, e junto com seus filhos, decidiram deixar o “pé da serra” onde moravam e subiram para a Chã da Serra Grande e deixaram definitivamente a área em que residiam. Lá, na chã da Serra Grande, Aninha morou com seus filhos vários anos debaixo de um pé de umbu, enfrentando: frio, fome, medo e o perigo da presença: de onças, de cobras de insetos, de doenças e ainda algumas pessoas tentaram expulsá-la de lá também. Como não conseguiram, graças à coragem, a fé e a persistência dessa heroína e de seu filho Manoel Geraldo, desistiram de tentar tomar as terras dela. Porém, alguém mandou fazer uma cerca de pedras, quase no topo da serra, fazendo assim, uma separação entre a terra dele e a de Aninha.

Foi a grande perseverança de Aninha Geraldo, que fez com que ela permanecesse lá e terminasse de criar todos os seus filhos. Ela só saiu de lá, quando morreu. Fato esse, que ocorreu em 1931. Ela foi a primeira descendente da família Geraldo a falecer na localidade da Chã da Serra Grande. Ela foi enterrada no cemitério de Japi, junto à cova de seu esposo Joaquim Geraldo e de seu pai Miguel Lourenço.

O primeiro filho de Aninha Geraldo era Manoel Geraldo, o mais inteligente da família, comprou quase todas as partes da pequena herança que era de sua mãe, casou-se com sua prima Mariana Geraldo e tiveram apenas dois filhos: Francisco Alves da Costa (Chicão) e Francisco Alves da Cruz (Chico preto). Chico preto abandonou essa terra e veio morar na cidade de Japi. Quem ficou responsável por esta propriedade durante muitos anos foi Chicão e alguns de seus filhos. Em 2010, Chicão faleceu e quem cuida da casa dele e da terra, é a sua filha caçula, Vitória Alves.

O senhor Nunes, tem uma pequena propriedade junto à de seu primo Chicão. Essa terra ele herdou de sua mãe Joana Geraldo. Quem cuida dessa terrinha é o seu filho José Geraldo, (Dedé de Esterlina). Agora vou escrever um pouco a respeito da descendência de Joana Geraldo, a qual se casou com Francisco Geraldo, filho de Vicência. 

Joana e Francisco Geraldo tiveram 11 filhos que foram: Nicândido Geraldo, Zeca, Nune Geraldo, Antônio Geraldo (Pífano), José Geraldo (Caboco), Maria Geraldo, Chiquinha Geraldo, Niná Geraldo, Nova de Amaro Catirina, Neném Geraldo e Nova de Geraldo, que mora no Logradouro.

A CASA DE FARINHA DE MANOEL GERALDO

Segundo Chicão, em 1937, Manoel Geraldo construiu na Chã da Serra Grande, uma casa e em 1939 ele comprou um “aviamento” (máquina de fazer farinha de mandioca) e, em 1940 ele levou esse aviamento para cima da serra onde lá, ele instalou-o na sua própria residência, o qual ocupou toda a área da sala. 

O aviamento que ele comprou era de segunda mão e ainda mais, esse equipamento havia sido construído a mais de 50 anos. Dizem que ele tem atualmente quase 200 anos, e ainda está em perfeito estado de conservação.

Nessa mesma época, em que esse equipamento começou a funcionar foi um grande sucesso. Embora atualmente ele quase não signifique nada, naquela época equivalia a uma grande indústria e representava grande desenvolvimento para essa região.

Nesses dias, muitos proprietários de “roça” vinham fazer farinha na “casa de farinha” do senhor, Manoel Geraldo.

Não podemos esquecer o termo “farinhada”, que significa o período em que se reuniam muitos rapazes e moças, todos trabalhando na produção da farinha. Durante a noite tomava-se café por várias vezes. Junto com o café vinha também: beiju feito com coco, tapioca quentinhas e bolos, todos feitos durante a “farinhada”. Segundo algumas pessoas mais idosas, durante as farinhadas aconteciam muitos namoros e paqueras. Rapazes trabalhavam piscando o olho para as moças e as moças para os rapazes.

Retomando o assunto sobre a vida de Manoel Geraldo, é bom salientar, que ele nasceu em 1888, e morreu em 1976 com 88 anos de idade. Ele foi a segunda pessoa da família Geraldo que morreu na localidade da Chã da Serra Grande. Depois, nesta mesma serra, morreram outros da mesma família.

Após a morte de Manoel, o aviamento ficou sobre os cuidados de Francisco Alves da Costa (Chicão), que é o pai de “Odete de Chicão” esposa de Cicero Batista dos Santos (Cícero do Bar meu tio). Atualmente esse equipamento não funciona mais, o aviamento ainda está dentro da velha casa de taipa que Manoel a fez. Chicão, filho de Manoel Geraldo nasceu em 20 de novembro de 1928, viveu por muito tempo nesta casa, deitado numa rede que se encontrava sempre armada junto ao aviamento velho que está coberto por poeira e teias de aranhas. Embora o senhor Chicão não se levantasse mais de sua rede, a não ser que fosse com a ajuda de outra pessoa, vivia lá, feliz, olhando sempre para aquele equipamento, lembrando “as noitadas de farinhadas”, das lutas de seu pai e de um passado emocionante.

Quero também citar neste livro, o nome de outra pessoa, que é bisneta do desbravador Miguel Lourenço. Essa pessoa também como herdeira de um pedacinho de terra, que hoje está dentro da área urbana da cidade de Japi, na qual, ele mora juntamente com sua família. É o senhor Ezequias Dantas, filho de Maria Barbosa. Maria Barbosa, como já foi citada antes, é filha de Maria Lourenço que é irmã de Aninha Geraldo.

Para Ezeqruias Dantas conseguir permanecer e ser dono desse pedacinho de terra juntamente com sua família enfrentou insulto e pressão. Foi necessária também, uma grande luta. Inclusive na justiça. Isso para não perder o direito de viver na sua terra, cuja herdou de sua avó, Maria Lourenço.

Maria Lourenço apossou-se daquele pedaço de terra, por volta de 1885. Talvez ela tenha sido a primeira moradora do Alto São Sebastião.