Qual pessoa você não gostaria de ter como colega de classe? Esta pergunta foi feita a 8.283 alunos entre 15 e 29 anos do ensino médio regular, da educação de jovens e adultos (antigos supletivos) e do programa Projovem urbano, ouvidos na pesquisa “Juventudes Na Escola, Sentidos e Buscas: Por Que Frequentam?”. O estudo gerou um livro, que foi recém-lançado pelo Ministério da Educação, Organização dos Estados Interamericanos e Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, e que aborda por diversos ângulos os motivos que fazem jovens permanecerem ou abandonarem a escola.
Entre as razões que os próprios estudantes citam como mais importantes para continuar estudando estão a relação com os amigos e a qualidade das aulas. Ou seja, sentir-se acolhido e pertencente a um grupo é, na opinião dos jovens, tão importante para a permanência na escola quanto o aprendizado de disciplinas tradicionais. Daí a importância de também investigar _como fizeram os pesquisadores Miriam Abramovay, Mary Garcia Castro e Julio Jacobo Waiselfisz_ como se dão as relações sociais na escola, não apenas entre adultos e jovens, mas também entre alunos.
Os dois perfis de alunos mais citados entre aqueles “indesejados” como colegas de classe são os vistos como “bagunceiros” ou “puxa-saco” de professores. Essas duas respostas dizem mais respeito a comportamentos percebidos no cotidiano escolar do que a orientações ou características pessoais. O caso dos bagunceiros, citados por 41% dos estudantes, remete a um problema que já sabemos ser grave no Brasil: a indisciplina em sala de aula. A questão aparece com frequência em respostas de professores, mas também tem surgido cada vez mais em estudos como um grave incômodo relatado pelos próprios alunos. A citação aos “puxa-sacos” (28% das respostas) talvez revele em parte uma rejeição a um perfil de estudante mais dedicado aos estudos.
Do ponto de vista do preconceito, as respostas ficam mais preocupantes quando tratam de características pessoais ou orientações sexuais. Para 19% dos alunos pesquisados, o tipo de estudante que eles mais rejeitam como colegas de classe são os travestis, homossexuais, transexuais e transgêneros. Outras formas de preconceito também apareceram. É revoltante imaginar que ainda exista no Brasil jovens capazes de admitir que não gostam de estudar com um colega apenas por ele ser negro ou ter algum tipo de deficiência. Mas esses percentuais declarados foram bem menores (0,3% e 0,6%, respectivamente) em comparação aos casos de homofobia.
Como o formato da pergunta levava o jovem a escolher apenas um tipo de perfil indesejado de colega em sala de aula, o percentual de rejeição a cada um desses grupos é certamente maior, pois um estudante que relatou se incomodar mais com os bagunceiros pode, também, ter algum preconceito contra homossexuais ou travestis, por exemplo.
A pesquisa permite também identificar o que já era conhecido por outros estudos que analisaram a mesma questão: a homofobia parte muito mais dos homens do que das mulheres. Entre eles, quase um terço (31%) dos jovens estudantes pesquisados disseram que o principal perfil de colega indesejado era um homossexual, travesti, transgenero ou transexual. Entre elas, o percentual é bem menor: 8%.
No início do ano, pressionados principalmente por grupos religiosos, vereadores e deputados de diferentes estados rejeitaram a inclusão, nos planos municipais e estaduais de educação, de metas de combate à discriminação de orientação sexual ou identidade de gênero. Os dados dessa mais recente pesquisa evidenciam mais uma vez o equívoco de ignorar essas questões no ambiente escolar. Se a escola é também um espaço de aprendizado do respeito à diversidade, o tema não pode ser varrido para debaixo do tapete. O preço da intolerância é pago não apenas por aqueles que sofrem diretamente suas consequências, caso dos alunos que evadem por essa razão, mas por todos nós.
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