sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Relato de FHC sobre bastidores de seu governo criou incômodo em aliados

“Para quê ele fez isso?” A pergunta que domina há duas semanas as rodas dos políticos em Brasília tem como alvo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que publicou recentemente o primeiro volume dos seus “Diários da Presidência”, um retrato dos bastidores do poder nos anos em que ele governou o país.

O livro causou desconforto, especialmente em políticos experientes, mas também em amigos do líder tucano e economistas renomados que participaram do seu governo.

Logo após a publicação das primeiras reportagens sobre os diários, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) ligou para Fernando Henrique. Polido, disse que gostaria de desfazer um “mal-entendido”.

“O sr. diz que o Luiz Carlos Santos pediu um cargo em meu nome”, iniciou Temer, mas FHC o interrompeu: “Temer, o Luiz Carlos morreu”. Estranhando a reação, o peemedebista disse ao ex-presidente que naturalmente sabia da fatalidade, e emendou: “É que está no livro do sr”.

FHC disse que não se lembrava do ocorrido, fez elogios a Temer e ambos desligaram.

Não foi o único reparo. Caciques do PMDB relatam conversas em que o também ex-presidente José Sarney classifica o conteúdo do livro de Fernando Henrique como “desnecessário” e “deselegante”.

Segundo eles, Sarney ficou especialmente irritado com o trecho em que Fernando Henrique o chama de “democrata tardio”, após narrar sua recusa a receber o ex-presidente do Peru Alberto Fujimori.

“Sarney resolveu não receber Fujimori […], teve uma recaída democrática. Parece que esqueceu do período do regime militar”, diz FHC. “É extraordinário! Esses democratas tardios são sempre assim.”

Amigos de Sarney afirmam que a obra “apenas reforça a fama que ronda FHC, de ser uma pessoa maledicente”. Procurada, a assessoria do peemedebista disse que ele não leu nem tem feito comentários sobre os diários.

O fato de o livro ter um índice remissivo facilitou o trabalho dos que querem saber como foram retratados por FHC. O deputado Heráclito Fortes (PSB-PI) foi um dos que leu o livro de trás para frente. “Vi que sou citado umas seis vezes”, contou. (Na verdade, são sete citações).

Quando FHC estava no poder, Heráclito estava no PFL e foi líder do governo no Congresso. Em um trecho dos diários, FHC situa o aliado em um cenário de”futricas” com a imprensa. “Não fiquei chateado”, afirma Heráclito. “O termo não é pejorativo, até porque ninguém gosta mais de futrica do que o Fernando”, emenda. “E quando você vai na casa de alguém, faz o que o anfitrião mais gosta.”

Amigo de Fernando Henrique há décadas e ministro do Planejamento e da Saúde nos governos tucanos, o senador José Serra (PSDB-SP), que é citado em 245 páginas do livro, tem evitado falar publicamente sobre o assunto.

Em diversos trechos dos diários ele recebe elogios, mas há também críticas, algumas de cunho pessoal.

FHC reclama do amigo, por exemplo, quando ele não o acompanha numa viagem para receber uma homenagem no Chile. “Acho que o Serra não se sente bem vendo tantas homenagens que não sejam a ele”, anota nos diários.

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