quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Puxada por alimentos e combustíveis, inflação sobe em novembro e supera 10% no acumulado em 12 meses; índice mais alto desde 2002

Puxada pela alta dos preços dos alimentos e dos combustíveis, a inflação oficial brasileira acelerou forte em novembro e passou a registrar um avanço de 10,48% no acumulado em 12 meses.

Essa é a primeira vez que a inflação acumula uma taxa de dois dígitos desde novembro de 2003 (11,02%). Naquele ano, o câmbio disparou com as incertezas do mercado sobre como seria o primeiro governo do PT.

Em novembro, isoladamente, o IPCA foi de 1,01%, acima do verificado em outubro deste ano (0,82%) e do mesmo mês do ano passado (0,51%), informou o IBGE nesta quarta-feira (9).

O dado veio acima das estimativas de economistas consultados pela agência internacional Bloomberg, que viam IPCA de 0,95% em novembro e de 10,42% no acumulado em 12 meses.

Trata-se do índice mais alto para o mês de novembro desde 2002, quando atingiu 3,02%.

A inflação avança agora 9,62% no acumulado de janeiro a novembro, a maior alta para o período desde 2002 (10,22%). É um aumento bem maior que o teto da meta de inflação do governo neste ano, de 6,5% -o centro é de 4,5%, com margem de dois pontos para mais ou menos.

Pela previsão dos economistas consultados pelo Banco Central (BC), no boletim Focus, divulgado na segunda-feira, a inflação deve fechar o ano em 10,44%. No próximo ano, a expectativa é de inflação de 6,70%.

Boletim Focus

Com o IPCA acima do teto da meta, o presidente do Banco Central terá que publicar uma carta aberta ao ministro da Fazenda no início do próximo ano explicando por que falhou no cumprimento da meta.

Desde que o sistema de metas de inflação foi criado em 1999, isso ocorreu apenas três vezes: em 2001 e 2002, segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, e em 2003, primeiro ano do governo Lula.

TARIFAÇO

Os preços administrados pelo governo são os principais responsáveis pela escalada da inflação a dois dígitos nos últimos 12 meses. É o caso de produtos e serviços como energia elétrica (51,27%), gasolina (19,33%) e gás de cozinha (23%).

Estabelecidos direta ou indiretamente pelo governo, esses preços estavam represados nos últimos anos para evitar uma inflação ainda maior. Neste ano, foram liberados como parte do processo de ajuste da economia.

Como a energia elétrica é um item básico na planilha de custos de produtos e serviços, a alta dos preços criou um espiral inflacionário, alimentando os preços desde o condomínio do prédio ao salão de cabeleireiro.

Essa pressão dificultou ainda mais o trabalho do BC de conter o avanço dos preços, mesmo com a economia em recessão. O Banco Central hoje atua para evitar que a inflação supere o teto da meta em 2016.

ALIMENTOS DISPARAM

Se a inflação foi pressionada ao longo do ano pelos preços administrados, isoladamente em novembro os vilões foram os alimentos, segundo os dados divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira.

O grupo alimentação e bebidas acelerou de 0,77% em outubro para 1,83% em novembro. Ele foi responsável assim, sozinho, por um impacto de 0,46 ponto percentual da inflação de 1,01% no mês passado.

Por dentro do resultado, a alimentação em casa (2,46%) pesou mais, especialmente por causa de produtos in natura, como previam os economistas. Destaque para batata-inglesa (27,46%), tomate (24,65%) e açúcar cristal (15,11%).

Poucos produtos alimentícios ficaram mais baratos no mês, como a carne industrializada (-0,79%) e o leite (-0,76%). Vale lembrar que os alimentos respondem por 25% do índice de inflação ao consumidor.

Os alimentos são afetados por um regime de chuva desfavorável em algumas regiões do país. O câmbio também pressiona via custos, ao deixar insumos mais caros, e pelo repasse de cotações internacionais, em dólares.

ETANOL PESA

Os combustíveis também apareceram entre os principais impactos no mês, com um aumento de 4,16%. O preço do litro da gasolina subiu 3,21%, o que representou um impacto de 0,13 ponto percentual nos preços.

Segundo economistas, o avanço não foi influenciado desta vez pelo reajuste de preços dos combustíveis da Petrobras nas refinarias, mas pelo aumento do etanol adicionado à mistura da gasolina.

Os preços do etanol (álcool hidratado) subiram nas bombas 9,31%, respondendo por 0,08 ponto percentual da inflação no mês. No ano, o produto acumula agora um avanço de 26,10%, segundo o levantamento de preços do IBGE.

O etanol sobe porque o reajuste da gasolina deu margem para aumento de preços entre produtores, já que os produtos disputam a preferência do consumidor nos postos. A alta de preços do açúcar contribuiu.

Com o avanço dos combustíveis, a inflação do grupo de transportes foi de 1,08% no mês, o segundo maior impacto (de 0,20 ponto percentual). Além dos combustíveis, o reajuste dos ônibus urbanos em contribuiu, com alta de 1,11%.

A energia elétrica voltou a se destacar no mês, com alta de 0,98%. O principal motivo foi o reajuste da energia elétrica da concessionária Light, do Rio de Janeiro. O aumento médio da tarifa da concessionária foi de 16,78%.

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