“Sei falar português do Brasil, mas estou destreinado”, começa por avisar Jérôme Champagne. O francês, de 57 anos, aprendeu o idioma durante o período em que viveu em Brasília, de 1995 a 1997, onde foi “número 3 da embaixada francesa”. “O Brasil é um país muito importante para mim. Foi aí que nasceu o meu filho”, lembra. Nessa altura, Pelé era o ministro do Esporte. “Tive o privilégio de conhecê-lo e ficamos amigos. Ele apoia a minha candidatura.”
Champagne é um dos cinco candidatos à presidência da Fifa nas eleições marcadas para 26 de fevereiro. Terá pela frente o príncipe jordano Ali bin Al-Hussein, presidente da federação do seu país, Gianni Infantino, secretário-geral da Uefa, Salman Al-Khalifa, líder da Confederação de Futebol da Ásia (AFC) e o sul-africano Tokyo Sexwale. Dedicou grande parte da sua vida à carreira de diplomata e trabalhou na Fifa, entre 1999 e 2010, muito perto de Joseph Blatter.
“Saí por causa de uma coligação de pessoas que me queriam eliminar e entre as quais estava Michel Platini”, lembra. Tentou se candidatar às últimas eleições, em maio de 2015, mas não conseguiu reunir os apoios necessários. Desta vez, porém, está na corrida e promete várias reformas caso seja eleito. Quer limitar o número de mandatos do presidente e membros do comitê executivo da Fifa, não coloca de lado a hipótese de o Qatar vir a perder o Mundial – caso se prove a compra de votos – e deseja publicar a integridade do relatório Garcia sobre as suspeitas de conduta ilegal na atribuição das Copas de 2018 e 2022. Também quer introduzir algumas mudanças no jogo, como o cartão laranja, auxílio de vídeo para arbitragem e uma quarta substituição.
Conhece bem o futebol brasileiro e acredita que as suspeitas de corrupção que envolvem figuras como José Maria Marin, Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero são apenas uma parte do problema. “A situação é terrível porque a liderança está sofrendo, com muitas investigações nacionais e internacionais que envolvem antigos dirigentes, mas o futebol também está sofrendo.”
Um dos problemas, no seu entender, está relacionado com a “falta de venda centralizada dos direitos televisivos”. “Vemos uma grande disparidade entre o dinheiro recebido pelo campeão, Corinthians, perto de R$ 120 milhões, e o último classificado, Joinville, com cerca de R$ 15 milhões. Esta diferença contribui para um campeonato pouco competitivo.”
Dá como bom exemplo a liga inglesa. “É o campeonato mais rentável do mundo porque nunca sabemos quem vai ganhar cada jogo. Isso também acontece porque, neste momento, tem a menor diferença de distribuição de dinheiro televisivo entre primeiro e último classificado. Por essa razão temos o Leicester nas posições de frente e surpresas em todas as rodadas.”
A organização das competições brasileiras é outra das deficiências que aponta, como os jogos às 22h nas noites de quarta-feiras (imposição da Rede Globo). “A média de torcedores tem caído porque alguns jogos realizam-se em horários que não permitem às famílias ir ao futebol. O calendário também é difícil de organizar por causa de quatro meses dedicados às competições estaduais. Ao mesmo tempo, sabemos que a globalização faz com que as ligas do Brasil percam quase mil jogadores anualmente. É um problema de fundo”, analisa.
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