Magistrado Márlon Reis reafirmou acusação, feita em um programa de TV |
A
Câmara dos Deputados, por meio de seu presidente, Henrique Alves (PMDB-RN),
resolveu processar o juiz Márlon Reis (foto), um dos idealizadores do
movimento que resultou na Lei da Ficha Limpa.
Henrique
Alves (que no momento disputa o governo do Rio Grande do Norte) enxergou uma
ofensa numa participação de Márlon Reis numa reportagem do programa “Fantástico”, da TV Globo, veiculada
em 8.jun.2014.
As
declarações do juiz foram apenas repetições a respeito de tudo o que se conhece
de corrupção entre políticos. Em todas as suas falas, Márlon Reis teve o cuidado
de não generalizar, mas dizer que as práticas eram comuns e usadas por grande
parte dos congressistas. Por exemplo, a cobrança de propina na liberação de
emendas ao Orçamento.
Estudioso
do assunto, o juiz escreveu um livro, “O Nobre Deputado”, no qual relata as
práticas mais corriqueiras de corrupção na política. Para tornar mais fácil a
compreensão, cria uma personagem fictícia, o deputado Cândido Peçanha, que
pratica várias irregularidades. Na reportagem de junho, é usada também a figura
do “deputado Peçanha” para dar mais inteligibilidade ao material divulgado.
Para
a Câmara dos Deputados, Márlon Reis cometeu “ilícitos”. Na peça inicial do processo, o deputado Henrique Alves acusa:
“De modo leviano, por meio de acusações genéricas contra sujeitos não
identificados, que inviabilizam o direito de defesa, o Reclamado [Márlon Reis ]
assacou conduta desonesta e criminosa a todos os integrantes do Poder Legislativo”.
O
que irritou Henrique Alves foi a seguinte afirmação: “[Os corruptos] ocupam
grande parte das cadeiras parlamentares do Brasil e (…) precisam deixar de
existir”. Embora o juiz em momento algum diga que todos os políticos sejam
corruptos, foi assim que o presidente da Câmara entendeu.
“Note-se
o desserviço prestado pelo Reclamado [Márlon Reis ] à democracia e ao
exercício da cidadania, no que nutrida a crença –falsa– de que todos os
políticos –sem exceção– seriam corruptos e de que a política seria totalmente
subserviente a interesses escusos e alheia às legítimas demandas dos
eleitores”, escreve Henrique Alves no pedido de punição a Márlon Reis.
O
juiz aguardava para saber se o processo seria simplesmente arquivado, pela
inépcia da acusação. Mas ocorreu o oposto. O magistrado foi notificado pelo
Conselho Nacional de Justiça na semana passada, num ofício datado de
16.set.2014. Terá agora 15 dias para se manifestar.
Se
o CNJ entender que Márlon Reis cometeu um ato irregular ao falar que existem
políticos corruptos e ao descrever como eles agem, a punição para o juiz pode
variar de uma simples advertência até a perda do cargo por meio de uma
aposentadoria compulsória.
O Blog falou
com Márlon Reis, que reagiu da seguinte forma, numa nota por escrito:
“O
Presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, apresentou
reclamação disciplinar contra mim junto ao Conselho Nacional de Justiça por eu
haver levado a público, no livro ‘O Nobre Deputado’, informações por mim
coletadas ao longo de anos para minha tese de doutoramento”.
“A
Constituição Federal assegura a todos plena liberdade de pensamento e de
expressão. A atividade intelectual, por outro lado, é insuscetível de censura.
Infelizmente, nem todos se aperceberam disso”.
“Afirmei
e reafirmo que há entre os deputados pessoas que alcançaram seus mandatos por
vias ilícitas. Estes precisam ser detidos, o que demanda uma profunda mudança
do vigente sistema eleitoral, corroído por uma mercantilização do conceito de
política”.
“Em
vários outros livros e artigos tenho apontado as fragilidades grosseiras
presentes no sistema eleitoral brasileiro, que estimula o desvio de recursos
públicos para o fomento das campanhas, possibilitando a compra do apoio de
chefes políticos locais. Esse fato, do conhecimento de todos os brasileiros, é
por mim minuciosamente estudado e descrito em minhas obras em virtude da minha
condição de pesquisador dedicado ao tema. Minha condição de magistrado não
inibe minhas vocações intelectuais. Seguirei fazendo o que sempre fiz”.
Blog
Fernando Rodrigues
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