
De acordo com o editorial, o Brasil enfrenta o “começo de um estresse econômico extremo”, marcado pelo encolhimento da economia em 3% este ano e 2% em 2016. A publicação destaca que as finanças públicas “estão em desordem”, que o endividamento público voltou a crescer e que o país teve sua nota de crédito rebaixada pela agência Standard & Poor’s na semana passada.
Segundo o jornal, o rebaixamento não foi provocado exatamente pela crise na economia brasileira, mas pelo agravamento da crise política. “Dilma Rousseff, a presidente, não é amada por seu próprio partido, e sofre forte rejeição: ela é o presidente mais impopular da história do Brasil. Por isso, é quase impossível para ela responder adequadamente aos problemas econômicos. Especialmente com o Congresso mais preocupado em salvar a própria pele de uma investigação de corrupção que desviou US$ 2 bilhões da estatal de petróleo, a Petrobras.”
A eventual saída de Dilma, no entanto, não resolveria a crise, avalia o Financial Times, ao apontar a mediocridade como característica que une a presidente e sua linha sucessória, composta pelo vice-presidente Michel Temer e pelos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
De acordo com o jornal britânico, a solução passa por uma ampla renovação política no país, o que dificilmente ocorrerá antes de 2018, ano das próximas eleições gerais. Para o Financial Times, a situação do país ainda pode piorar. “Se outra agência de ratingseguir a decisão da S&P, muitos investidores estrangeiros terão de vender suas aplicações no Brasil, tornando as coisas piores”.
Apesar das críticas, o jornal se posiciona contra um eventual afastamento de Dilma da Presidência. “A impopularidade de Rousseff é razão insuficiente para tirá-la do cargo: se fosse suficiente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que estabeleceu as bases da estabilidade econômica desperdiçada agora pelo Brasil, não teria durado em seu segundo mandato”, ressalta.
O editorial também defende a permanência do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, elogiado por tentar cortar o inchaço no setor público brasileiro. O problema, observa o jornal, é que Levy “tem sido minado por outros que acreditam erroneamente que o Brasil pode voltar a gastar para escapar de seus problemas”. Para a publicação britânica, a saída de Levy, cogitada nas últimas semanas nos bastidores, terá efeito nocivo para o Brasil. “Os investidores adotarão uma visão sombria da capacidade do governo de endireitar as contas públicas.”