quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Estudo reivindica fim da ‘raça’ na pesquisa genética

Durante séculos a ciência pautou inúmeras teorias baseadas em um critério — a raça. A partir dela, concluía-se que indivíduos teriam maior propensão a determinadas características e comportamentos. Este indicador já deixou o laboratório e foi usado para interpretações sociais e políticas, dando aval, em casos extremos, a regimes escravocratas e a exploração de judeus por arianos no início do século XX. Agora, uma equipe internacional de pesquisadores reivindica que as classificações raciais finalmente sejam abandonadas no estudo da genética humana, dando lugar a conceitos como ancestralidade e população.

“É hora de os biólogos encontrarem uma maneira melhor”, alertam cientistas das universidades de Drexel e Pensilvânia, ambas nos EUA, e do Museu Americano de História Natural, logo no início de um artigo publicado esta semana na revista “Science”.

Michael Yudell, professor do Departamento de Saúde Pública de Drexel, destaca que, do ponto de vista da genética das populações, “as classificações por raça não têm sentido”. Com a aplicação de métodos biológicos, Yudell e os outros autores do estudo concluem que os grupos raciais comumente definidos não têm características genéticas suficientemente precisas para separá-los.

Um dos maiores problemas no uso da raça como um fator distintivo na biologia moderna e na medicina é que “as suposições raciais não são os marcos biológicos que alguns acreditam”. Além disso, o estudo indica que o uso constante da raça nos levantamentos genéticos proporcionou crenças racistas — tanto assim que, em 2014, diversos cientistas foram forçados a refutar afirmações sobre “a base genética das diferenças sociais entre as raças”.

Outro alerta é sobre a importância de não confundir ancestralidade com o conceito de raça.

“A ancestralidade é uma afirmação sobre o relacionamento de um indivíduo com os demais em sua história genealógica; portanto, é uma compreensão muito pessoal da própria herança genômica”, explicam os autores. “A raça, por sua vez, é um, conceito baseado em padrões que levou cientistas e leigos a traçarem conclusões sobre uma organização hierárquica entre humanos”.

Assim, a equipe de Yudell acredita que, nos estudos, o conceito de raça deve ser substituído por outros ligados à ancestralidade ou população — que, reconhecem, ainda são carentes de uma definição mais detalhada, um tema que deve ser debatido em novos estudos.

“A linguagem é importante, e a linguagem científica sobre raça tem uma influência significativa sobre como o público (que inclui cientistas) identifica a diversidade humana”, ressaltam os pesquisadores.

Este esforço causaria menos confusão nos estudos e também “mandaria uma importante mensagem para os cientistas e o público geral: as classificações da história social que são tratadas como naturais e infundidas com noções de superioridade e inferioridade não têm lugar na biologia”.

Isso não quer dizer que a interpretação do conceito de raça” não tenha valor em estudos científicos. Yudell admite que, embora esta definição contenha uma série de problemas, seu uso nas esferas social e política podem contribuir para a compreensão de diversos tipos de desigualdades. No entanto, a adoção deste termo na genética deve ser abolido.

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