O TEXTO A BAIXO FAZ PARTE DE MUITOS OUTROS, QUE VAI ESTÁ NO
NOVO LIVRO DO ESCRITOR EDSON BATISTA,
QUE SERÁ LANÇADO EM BREVE. TRATA-SE DA 2ª EDIÇÃO INTITULADA, “JAPI TERRA
QUERIDA. CAUSOS
E CONTOS”.
Essa nova edição terá como parceiros:
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, (UFRN);
O doutor e Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte: Zé
Daluz;
O doutor e professor: Edson
Júnior, Universidade Estadual do Ceará UEC.
Essa crônica vai descrever a
trajetória de vida da mais linda árvore que existe na cidade de Japi/RN. Trata-se
da grande caibeira do posto de saúde. Ela foi plantada por Ubaldo
Borges há mais de quarenta anos, na areia que ele e seus companheiros havia
colocado no muro do primeiro posto médico que acabara de ser construído na
cidade. Embora Ubaldo tenha plantado, quem cuidou e zelou dessa planta desde o
segundo dia em que ela foi plantada até chegar aos três anos de existência foi
o senhor Vicente Paulino.
Segundo Ubaldo Borges, cujo reside na
rua Manoel Medeiros, logo que terminaram a construção do referido posto de
saúde, o então prefeito Francisco Adésio de Medeiros (Neno Medeiros) mandou
encher de areia todo o espaço que componha a área do muro do referido prédio. Ubaldo
disse ainda, que a areia foi transportada do rio Jacu para o muro do prédio,
dentro de carroceria de dois tratores, cujos pertenciam ao referido prefeito, e
que os motoristas eram Manoel tratorista e ele.
Neste mesmo ano, em junho de
2018, Paulo Manco me disse que quem enchia de
areia a carroceria dos tratores eram os senhores: Zé de Gringo, Mané Vaca Magra
e também ele. Vale salientar, que meses antes, Ubaldo Borges havia dito a mim
que “Pedão” e Otávio Dantas também trabalharam com eles nos referidos tratores enchendo
carroceria de areia.
Os motoristas dos tratores e alguns
dos ajudantes me disseram que no momento em que encontraram a referida planta
(a caibeira) pensaram que era um pé de manga, e que foi por isso que Ubaldo a
trouxe e plantou-a no muro.
Também num outro dia, quando eu conversava com
Ubaldo a respeito da caibeira, ele me disse que o suposto pé de manga confundiu
por muito tempo não só ele, mas também o então zelador do prédio, que era o
senhor Vicente Paulino, que foi a pessoa que cuidou e zelou da plantinha com
muito carinho desde que ela foi plantada na areia do muro do posto médico.
Também, outros funcionários que posteriormente vieram trabalhar no referido
posto pensaram que era de fato um pé de manga. A saber: Zé Albino e Manoel
Gomes. Vale salientar ainda, que muitas pessoas da cidade também acreditaram
que a referida plantinha era realmente um pé de manga. Esse pensamento perdurou
nas mentes das pessoas da cidade até a década de 1980. O porquê de muitas
pessoas não terem conhecido a espécie da referida planta ainda parece ser um
mistério.
Teinha,
esposo de Moça de Zé Olinto também se expressou dizendo: “Por muito tempo também pensei que essa planta era um pé de mangueira. Também, já noutro dia,
o senhor Jaime Caboclinho Dantas, que nessa época vendia num barraco que fica de
frente para o posto médico, disse a mim que todos os dias via Vicente Paulino
aguando a plantinha, e que também pensou por muito tempo que era realmente um
pé de manga. Também confesso com toda a minha convicção, que dentre tantas
pessoas da cidade, fui uma das que tive o privilégio de ver por diversas vezes
o senhor Vicente Paulino aguando aquela bela plantinha, quando ela tinha
aproximadamente trinta centímetros de altura. Nessa época eu era ainda um
adolescente. Por isso tudo é que quando
se fala dessa grande árvore vem logo a nossa mente a imagem da caibeira associada
a pessoa de Vicente Paulino.
Agora, depois de
conhecer de fato, a grande importância que é a caibeira para a nossa comunidade
podemos dizer com toda certeza, que essa árvore é um patrimônio natural da
nossa cidade. Embora hoje entendemos assim, um dia poderá surgir alguém que irá
tentar destruí-la. O tempo dirá.
Quanto aos pássaros é importante dizer
que durante a noite as caibeiras viram verdadeiramente dormitório de aves.
Dentre as espécies que mais frequentam ali para dormir todos os dias, há uns
que o povo os chamam de “pássaros
pretos”. Eles se parecem com a craúna
sendo o pássaro preto um pouco menor. Eles representam um número bastante
relevante dentre os que participam dessa manifestação avícola recorrente diariamente,
sendo os pardais os que representam a maior quantidade.
Ainda sobre os pássaros pretos, é
importante observar que todos os dias pela manhã e pela tarde, eles cruzam o
céu da cidade vindo em revoada sobre as casas. Vale ressaltar ainda, que a
maior parte deles são aves que migram das serras, em especial a serra grande
aonde passam o dia se alimentando e se reproduzindo. À tarde, quando o sol começa
a se esconder nas serras que ficam na parte ocidental da cidade eles retornam para
cá com destino ao pé da caibeira. Eles passam aqui em rebanhos de oito, de dez
e de doze aves. Fato esse, que é recorrente todos os dias. Aqui na caibeira, onde
eles (os pássaros pretos) se juntam
com outros pássaros: os pardais que vivem na cidade; galos de campina que vivem
na beira do rio Jacu e nos campos. Após isso, depois que o sol se esconde no
poente, a cantoria começa e só termina quando a noite de fato começa. Fazem parte
dessa grande festa, centenas de aves de diferentes espécies, quando um dos principais
objetivo delas talvez seja apenas cantar. Quando começam o canto desses seres, ecoa
no espaço ao arredor da caibeira um grande e lindo som agudo num ritmo bem
sintonizado, numa única linguagem que eles entendem perfeitamente. É de fato um
verdadeiro coral. Elas cantam em uma só harmonia. É também uma das maiores
animações e linda festividade sonora da cidade.
Ó como é bom e maravilhoso acordar
ouvindo o som do canto das aves que vem da direção da caibeira! Nem todos da
cidade tem esse privilégio. De manhã, por volta das quatro horas, da grande
árvore surgem os primeiros cantos. Perto do sol nascer a festa é ainda bem maior.
A medida que o dia vai clareando muitos deles se despede da caibeira voando em
direção as serras, enquanto outros ainda ficam cantando até o último sair da
grande árvore. Todos os dias eu presencio de pertinho esses fatos acontecerem,
pela tarde e pela manhã, porque minha residência fica bem próxima e de frente para
a caibeira. Por isso é que tenho essa visão privilegiada.
Por vezes, esses pássaros são nossos
amigos, conterrâneos e companheiros noturnos, que embora como nós tenham as
suas difíceis lutas diárias para sobreviver nos campos, nas serras e na zona
urbana, antes de dormirem, quando se juntam na caibeira com seus lindos cantos
nos transmitem grandiosíssimos gestos de: gratidão, amor, alegria, união,
harmonia e paz. Mesmos sendo de espécies diferentes não percebemos até hoje
nenhum desentendimento entre eles.
Como é bom e agradável fazer
caminhada cedinho nas praças da nossa cidade a partir das 04:00hs da manhã. A
gente vai andando em sintonia com o som dos pássaros que vem da direção da
caibeira, sentindo na pele a brisa do vento da manhã, sob a claridade do sol
que surge no horizonte anunciando a certeza do novo dia que está chegando.
Também, pessoas que passam de frente
da caibeira pela manhã nesse mesmo horário, indo em direção do hospital, especificamente
aquelas que vão pegar o transporte para irem a Natal se consultarem se sentem felizes,
emocionadas e encorajadas com o canto dos pássaros, que nos faz acreditar mais
na vida. Também, em alguns “botecos” e pequenas lanchonetes que ficam próximos
a caibeira, há pessoas que todos os dias saboreiam os seus cafés compartilhando
com o alegre som dos pássaros, aguardando o sol nascer ou mesmo aguardando
algum tipo de transporte para viajar.
Para chamar a atenção da população para
a caibeira durante a noite, uma vez por outra aparece uma grande coruja, cuja
pousa sobre a arvore. Talvez ela venha à procura de alimento. Como também,
costumeiramente se vê gatos subindo no tronco da árvore indo em direção aos
galhos.
Outro fato que também nos chama a atenção
e que perturba muitíssimo os pássaros, ocorre quando uma pessoa solta um fogo
de artifício (pistola). As aves pretas são as que primeiro voam. Talvez por
serem mais desconfiadas, porém logo retornam como uma nuvem pousando novamente sobre
a caibeira. Também já presenciamos por várias vezes, meninos jogando pedra nos
galhos da referida árvore, tentando possivelmente matar algum daqueles passarinhos.
Se por um lado alguém perturba os
pássaros, também, em parte os pássaros estão causando algumas pequenas mudanças
desconfortáveis especificamente no espaço físico ao arredor da árvore. Basta
que você olhe para a calçada do posto que certamente verá um tapete de fezes
sobre ela formado por fezes dos pássaros que defecam enquanto estão na árvore
rainha. Por causa disso, aqui vai um aviso. Se você não quiser levar uma pastada
de fezes dos pássaros não passe na calçada durante as horas em que eles
estiverem reunidos na caibeira.
Ainda por causa das fezes das aves
outro fenômeno está acontecendo, cujo vem mudando a visão do tronco da árvore
como também os telhados das casas que ficam ao arredor dela. São árvores do
tipo cactos como: facheiro, xiquexique e mandacaru. Tudo isso por causa das
fezes dos pássaros pretos. Eles comem os frutos dos cactos na caatinga e
defecam à noite quando nos galhos da caibeira. Por causa disso, quando chove as sementes
germinam e nascem essas plantas exóticas (os cactos) ao ambiente.
Hoje muitos indagam: porque essas
aves deixam o silêncio e a paz da selva e vem dormir no barulho da cidade? As
vezes penso que gostam mesmo é da inquietude urbana haja vista que aqui no
canto (no pé da caibeira) em que elas se juntam todos os dias é o local da
cidade em há mais conturbação. É aonde ocorre o maior fluxo de pessoas; Concentração
de órgãos públicos como: Secretaria de educação, escolas, creche, hospital,
posto de combustíveis, quadra de esporte que fica no mesmo muro do posto e o centro
de saúde; tráfego de automóveis do tipo: caminhões pesados, parada de
transporte de passageiros, frota de taxistas e o maior fluxo de motos com canos
furados. Já cheguei a pensar que o que atrai essas aves para cá é a claridade.
Será? Talvez sim talvez não. Também já cheguei a pensar que é por causa do
tamanho da árvore. No tocante ao tamanho da árvore me causa muitas dúvidas
também, haja vista que na selva, especificamente no boqueirão perto de onde
eles ficam durante o dia há árvore igual ou bem maior do que a nossa caibeira,
num local de paz, sem barulho e longe de pessoas. Creio que tudo isso para nós
ainda é um mistério. Só Deus sabe. Aliás. Se você observar com detalhe verá que
nessa história há muitos mistérios.
Quem diria que aquela pequena árvore,
que a quarenta anos foi encontrada por Ubaldo Borges e seus companheiros, quando
quase solitária estava na imensidão de areia do rio Jacu, em meio de um sol
escaldante, quando o seu destino era a sua precoce morte, hoje tenha se tornado
em um dos mais lindos e importante cartão postal da cidade de Japi e num símbolo
de resistência e de uma vida longa e saudável.
Quanto ao saudoso Vicente Paulino os filhos
daqui jamais poderão esquecer esse legado de amor e carinho que ele deixou para
com todos nós japienses. Para tanto, ele foi o responsável e pai adotivo desta
magnífica árvore. Cuidou dela desde os primeiros dias de vida, quando ele a
encontrou na areia do muro do posto até ela se tornar adulta. Agora, se ela
existe devemos ser gratos a Ubaldo e ao saudoso Vicente Paulino, que é
conhecido como: “o protetor da caibeira”.
Nota de rodapé (1º) – Trapiá – Era uma
pequena área que ficava na beira do rio Jacu próxima ao cemitério. Naqueles
tempos esse lugar era conhecido por esse nome devido a um pé de trapiá, uma
árvore frutífera que existia lá, cuja fica na beira do rio. Agora,
lamentavelmente essa linda planta não existe mais lá. A sua espécie foi
praticamente extinta da nossa região. Outro fator que contribuiu muito para que
essa pequena área ficasse conhecida por trapiá foi um grande poço de água que existia
próximo a essa árvore, cujo, nesse tempo virou uma área de laser para a
meninada. Ali, todos os dias, depois de brincarmos muito em lugares diferentes
da cidade íamos se refrescar tomando banho nas águas do famoso “poço do trapiá”
e chupar frutos de trapiá.
TRAPIÁ vem do tupi
guarani e quer dizer “fruta de anta”, pois esse mamífero tinha predileção por
essa fruta.
Árvore elegante, de 4 a 15m conforme as variações climáticas de cada
região. A copa é arredondada ou semelhante a um guarda-chuva.
Autor: EDSON BATISTA DOS SANTOS.
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