A chuva lá fora me lembrou essa tempestade que captei em 2004, em Japi,
sertão do RN. Fotografar um evento tão raro no sertão me fez escrever o poema
"A chuva", que compartilho agora. Em tempo: a casa da minha avó
Maria, que existe há mais de 60 anos, é essa primeira, à direita.
Goimar Dantas
Goimar Dantas
A chuva
Em cada gota uma esperança.
Um signo de futuro.
Um alimento líquido de fé.
Depois de meses de seca,
a chuva desaguava generosa,
penetrando nas veias do chão batido
e bombeando energia vital para o solo.
Acima da terra,
casas caiadas desciam um tom na sua pintura frágil,
desbotada pelo tempo, pela poeira, pelo sol.
Eufóricos, os moradores agradeciam
em estilo sertanejo:
velas para São José,
louvores para Nosso Senhor,
cânticos para Nossa Senhora.
Lá fora, crianças se banhavam na água purificadora
E, como eram crianças, se atiravam na lama depois
(sem nenhuma culpa judaico-cristã).
A noite veio ao som de zabumbas, triângulos e sanfonas.
O arrasta pé cobriu o terreiro ainda úmido,
fértil, pleno de expectativas e promessas.
Mas na manhã seguinte, Tonho acordou suado.
Correu pra janela e, estarrecido,
entendeu que a chuva tão esperada não passava de um sonho.
Com os nervos há muito abalados pela fome que assistia em casa,
o homem não suportou a tristeza.
Desde então, passa os dias na rua, maltrapilho.
Não é um doido agressivo.
Mas vive de assustar a meninada com sons que imitam, certeiros,
o estrondo dos trovões.
Um alimento líquido de fé.
Depois de meses de seca,
a chuva desaguava generosa,
penetrando nas veias do chão batido
e bombeando energia vital para o solo.
Acima da terra,
casas caiadas desciam um tom na sua pintura frágil,
desbotada pelo tempo, pela poeira, pelo sol.
Eufóricos, os moradores agradeciam
em estilo sertanejo:
velas para São José,
louvores para Nosso Senhor,
cânticos para Nossa Senhora.
Lá fora, crianças se banhavam na água purificadora
E, como eram crianças, se atiravam na lama depois
(sem nenhuma culpa judaico-cristã).
A noite veio ao som de zabumbas, triângulos e sanfonas.
O arrasta pé cobriu o terreiro ainda úmido,
fértil, pleno de expectativas e promessas.
Mas na manhã seguinte, Tonho acordou suado.
Correu pra janela e, estarrecido,
entendeu que a chuva tão esperada não passava de um sonho.
Com os nervos há muito abalados pela fome que assistia em casa,
o homem não suportou a tristeza.
Desde então, passa os dias na rua, maltrapilho.
Não é um doido agressivo.
Mas vive de assustar a meninada com sons que imitam, certeiros,
o estrondo dos trovões.
Via facebook: Goimar Dantas
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