Miriam Leitão: No
ato em defesa do governo, o PT mostrou que ainda não entendeu o momento do
Brasil. Rui Falcão, presidente do partido, disse que quando viaja pelo interior
ouve do povo que as pessoas estão acostumadas com a corrupção e que tudo o que
está acontecendo é para evitar a volta de Lula. Que povo será este o do Falcão?
É fácil verificar em qualquer conversa que o brasileiro está farto disso.
O
pensamento de Falcão é todo dissonante: “Sabe o que o pessoal diz no interior
quando (a gente) viaja para outros estados? Olha, tudo isso que está
acontecendo, a gente entende, que haja corrupção, nós já estamos acostumados. O
problema é impedir a volta do Lula em 2018, é disso que se trata.”
Recomenda-se
ao presidente do PT que converse com outro “pessoal”, porque dificilmente
ouvirá da maioria dos brasileiros que “... a gente entende que haja corrupção,
nós estamos acostumados”. Ele supõe que haja um conformismo com a corrupção, no
momento mesmo em que a popularidade do governo despencou, e as instituições têm
feito o maior esforço que este país já viu no combate a esse crime. A Operação
Lava-Jato é o mais amplo ataque contra o roubo de recursos públicos e só tem
tanto apoio porque o país não quer conviver mais com isso.
O
PT supôs que o país tinha ficado insensível ao crime de corrupção, tanto que as
negociatas na Petrobras começaram em meio à descoberta do mensalão. Fechada uma
frente, o partido foi prospectar na maior empresa do país, confiando na
impunidade e em uma suposta aceitação bovina da corrupção, do tipo “nós estamos
acostumados”.
Numa
extemporânea recriação do “rouba, mas faz”, Falcão continua: “a volta de Lula
não é uma questão de messianismo, nem de salvação nacional, é a salvação de um
projeto que precisa avançar”. Que projeto? O de elevar a escala da
promiscuidade entre grandes empresas e o governo em negócios sombrios, para
financiar o projeto de poder? O dinheiro é desviado para partidos que sustentam
o governo, para que ele seja vitorioso a cada eleição. Isso é círculo vicioso,
e não plano de governo.
O
país está em recessão, com inflação chegando a dois dígitos, juros subindo,
desemprego em alta, desconfiança crescente, dívida e déficit público escalando.
A esta situação se chegou por decisões tomadas em governos do PT. Portanto, se
ele quiser trazer Lula de volta, precisa mudar de discurso. Em nome do que Lula
quer voltar? É preciso responder a isso com um propósito convincente, e não com
esta visão persecutória de que as denúncias de corrupção trazidas à tona pelo
Ministério Público, Polícia Federal e a Justiça tenham sido criadas para
impedir que Lula volte.
O
evento organizado pelo diretório do PT em São Paulo, para apoiar o governo
Dilma, acabou defendendo Lula para presidente em 2018. Segundo o presidente do
diretório estadual, Emídio Souza, o partido vai se recuperar e vai assistir
“Dilma terminar seu mandato e entregar a faixa presidencial para o companheiro
Luiz Inácio Lula da Silva”. Com tão pouca aprovação e várias sombras sobre seu
governo, se a presidente Dilma entregar a faixa em 2018 será uma vitória. Ela
deve se concentrar no único projeto que faz sentido: governar bem o Brasil. E
nisso ela está fracassando no momento. A campanha eleitoral fora de hora a
enfraquecerá ainda mais. Medidas eleitoreiras só vão aprofundar a crise. Se os
petistas têm algum apreço pela presidente, deveriam estar tentando fortalecer
seu governo, em vez de começar agora a campanha para Lula em 2018.
Falcão
participou de reunião com a presidente Dilma, o ex-presidente Lula e ministros
antes de ir para o evento partidário. Portanto, não se pode dizer que ele falou
o que não foi autorizado a falar. Estava numa reunião de governo e de lá saiu
para dizer que o povo está acostumado com corrupção e que o importante é eleger
Lula em 2018.
O
país está farto de corrupção. A Operação Lava-Jato é a maior oportunidade que
se tem de corrigir o que está minando a democracia e a economia brasileiras.
Basta andar um pouco pelo país e conversar com o pessoal que é isso que se
ouvirá. O brasileiro não quer mais ser espoliado. É disso que se trata.