MAIS DOIS ENREDOS DA SÉRIE “OS CAÇADORES JAPIENSES E SEUS CAUSOS”, QUE ESTARÁ
NA 2ª EDIÇAO DO LIVRO “JAPI TERRA QUERIDA: causos e crônicas”. AGORA VOCÊ TERÁ A
OPORTUNIDADE DE CONHECER AS AVENTURAS DESSES DESTEMIDOS CAÇADORES QUE NO SÉCULO
XX SE EMBRENHARAM NA CAATINGA À PROCURA DE ANIMAIS FEROZES: ONÇAS E SERPENTES
VENENOSAS QUE CAUSAVAM MEDO E TERROR À POPULAÇÃO JAPIENSE. TAMBÉM
MATAVAM CAÇAS P/ SE ALIMENTAREM COMO: VEADOS, JURITIS, LAMBUS, ASAS BRANCAS,
PEBAS, TAMANDUAS, ROLINHAS, JACUS E OUTRAS.
Segundo dona Alice Geraldo dos
Santos Costa (Alice de Vicente Paulino), nas décadas de 1920 a 1960 alguns
proprietários da localidade de Japi criavam muitos bodes, dentre tantos, vale
dizer que o coronel Manoel José de Medeiros, cujo controlava e mantinha sob seu
punho, o monopólio agropecuário da região, quando a partir da segunda metade do
século XX já era considerado o maior latifundiário de terras da localidade.
Na sua fala, Alice relata que do pé a
chã da Serra Grande, vales do Boqueirão, Serrinha, Ubaia e no sitio Vaca Morta
existia de fato grandes rebanhos de bodes. Era a época dos grandes criadores de
bodes do Sertão. Eram tantos por aqui, que era muito comum bodes de uma
propriedade se misturar com bodes de outras. Haja vista que nesse tempo não
havia cercas adequadas para impedir a passagem de bode de uma propriedade para
outra. Contanto não havia muitas desavenças entre os proprietários dessa
localidade. Às vezes ocorria alguns furtos, pequenos problemas decorrentes de
animais, porém eram facilmente solucionados de forma pacífica, tendo em vista
que aqui quase todo mundo é da mesma família.
Alice relatou ainda, que no referido
tempo, todas as semanas Manoel Medeiros juntava vário homes para caçar e pegar
bodes nas matas. (A época das caçadas aos podes) Eles traziam os bodes para um
grande chiqueiro que havia ao lado da casa do “sótão” (a casa grande da fazenda
do coronel Manoel José de Medeiros). A informante disse ainda, que se lembra de
quando olhava para o chiqueiro da fazenda do Coronel e, de um canto a outra era
cheio. Eram tantos os bodes que não cabia nem sequer um homem em pé dentro do
curral. Os bodes ficavam uns sobre outros e coladinhos. Com isso, todo o espaço
desse chiqueiro ficava preenchido.
Os homens convidados tinham a tarefa de
trazer os animais para a fazenda do Coronel. Segundo Alice, o pagamento desses
homens era um bode que eles ganhavam de Manoel Medeiros, toda vez que iam a
“caçada dos bodes”.
Com grandes rebanhos de bodes assim nessa
localidade, possivelmente tenha sido esse um dos principais motivos que atraiu
para cá uma onça vermelha. Provavelmente tenha vindo de doutras regiões bem
longínqua. Talvez do Maranhão ou Piaui.
Com a permanência do felino rodeando o
povoado de Japi e se alimentando de bodes das fazendas, o povo começou a
encontrar muitas ossadas de animais que ela matava e devorava especificamente
perto de alguns olhos d´água a aonde os animais vinham saciar suas cedes
diariamente. Ás vezes, os caçadores encontravam alguns corpos de animais
enterrados no chão. A onça matava-os, sangrava-os e enterrava-os para comer
noutros dias. Também, o povo encontrava pegadas dela aos arredores da cidade.
À medida que os dias iam passando o
número de animais que eram mortos pela onça e que eram encontrados pelos
caçadores e vaqueiros das fazendas ia aumentando assustadoramente mais a mais.
E também, o povo daqui ficou muito assustado e preocupado, tendo em vista, que
naquele tempo a maioria das pessoas viviam na zona rural. Com isso, Manoel José
de Medeiros pediu ao proprietário Geraldo Simões para mandar seu povo (os
caçadores) para se juntar com os de Japi para tentar matar a onça. Segundo
Alice, isso ocorreu numa sexta-feira do mês de agosto de 1948.
Determinados e motivados pelo anseio de
matar a onça, o povo saiu à procura do felino nas serras do Boqueirão seguindo
o rastro dela e guiados pelo maior rastejador de todos os tempos do município de
Japi, que era o senhor Sebastião Borges de Lima pai de José Borges (Zé homão) e
de Chico de Dorinha que é pai de Iremar, cunhado de Carlos Dragão filho de
Manoel Preto.
Durante o trajeto, depois que o
rastejador havia pegado o rastro da onça, há poucos minutos, o povo se reuniu e
se separaram em pequenos grupos. Fizeram um cerco em torno do rastro do animal e
seguiram atrás dele. Próximo ao maior sítio arqueológico (o letreiro) que fica
no Boqueirão no rio Jacu, dentro da loca que ficou conhecida por “furna da
onça”, Geraldo Simões e seu grupo encontrou a onça e conseguiu atirar nela. Ela
não morreu a onde foi alvejada. Conseguiu sair da loca e correu de rio abaixo
na direção de Japi. Lá na frente, num banco de areia que fica em frente ao
“Poço da Negra”, José Vicente (Bajau) e Vicente Paulino que também estavam
atrás de matar o felino, encontrou o animal acabando de morrer. Os dois vinham
com uns “chuchus”. Por isso, depois de verem o estado em que se encontrava a
onça Bajau disse a Vicente Paulino: - Não vamos tocar nesta fera (a onça)
porque ela já está quase morta.
Isso vai para a nota de rodapé “1”.
Chuchos era um tipo de arma que os caçadores de onça desta localidade usavam
para atacar ou se defender de um possível ataque de uma onça. Essa arma era
semelhante a uma lança, porém feita de pau. No caso dos citados caçadores,
cujos encontraram a onça morrendo na areia, os chuchos eram feitos da madeira de
uma árvore muito conhecida na localidade de Japi naquela época, que conhecida
por Mororó. Pois se trata de uma das madeiras mais fortes que conhecemos por
aqui.
Hermilio Dantas, sua filha e seu pai Bajau que participou da caçada a onça
Logo que Vicente e Bajau encontraram o
animal, e perceberem que ele estava morrendo, começaram a gritar e atirar para
cima com espingardas, tentando chamar a atenção dos outros caçadores, avisando
a eles que a onça foi encontrada.
Quando todos os homens se juntaram, após
confirmado a morte da onça cortaram uma estaca que media mais ou menos três
metros de comprimento amarraram os pés e as mãos da onça nesse madeiro e
trouxeram o animal morto para a fazenda de Manoel José de Medeiros a onde
passou pouco tempo e depois a levaram para o centro do núcleo de moradores de
Japi.
Segundo dona Alice, a onça chegou ao
povoado por volta das 04: 30h da tarde daquele dia. Logo que chegou, o animal
foi pendurado na latada da feira campal que havia sido feita anos atrás por
João Batista Confessor de Oliveira. Ali todo o povo da localidade e povos
vizinhos vinha ver o animal.
Então nesse mesmo dia, passados algumas
horas, antes de anoitecer, tiraram o couro da onça e a carne foi partida em
pedaços que foram dados para os caçadores que participaram da caçada. Parte da
carne torraram e comeram ali mesmo, pois houve um banquete e o povo festejava
muito. Era muita carne torrada e feito churrasco. Ademais, Alice disse que no
outro dia foi carne até para a cidade de Santa Cruz/RN. Ela disse ainda, que no
outro dia a mistura da casa dela foi carne de onça. Porém na hora de comer ela
só comeu o feijão do prato. Ela olhou para a carne e pensou que era carne de
cachorro. Ficou com muito nojo.
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