A
Polícia Federal mira o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), em
nova fase da Operação Acrônimo, que investiga supostos desvios de recursos para
campanhas do Partido dos Trabalhadores, realizada nesta quinta-feira (25).
Os
investigadores pediram ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) autorização para
realizar busca e apreensão na residência oficial do governador, mas o pedido
foi negado. O tribunal também indeferiu solicitação para busca na sede do PT em
Minas e no BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social).
Um
dos alvos dos mandados de busca e apreensão da PF nesta quinta foi um imóvel em
um prédio de Belo Horizonte onde funcionava o escritório de Pimentel durante a
campanha de 2014. A residência particular dele fica ao lado, mas a PF não
esteve no local.
No
imóvel, a PF cumpriu mandado de busca e apreensão em uma empresa que já
pertenceu a Pimentel, a OPR Consultoria. Atualmente, ela é registrada no nome
do filho de seu ex-sócio.
A
OPR se chamava P-21 até 2012 e tinha sociedade composta por Pimentel e Otílio
Prado. Pimentel deixou a sociedade no mesmo ano. No fim de 2014, Otílio
transferiu a empresa para o seu filho, Alexandre Allan Prado, e foi nomeado
assessor especial da Secretaria da Fazenda de Minas Gerais e conselheiro da MGS
-empresa pública que presta serviços administrativos ao Estado.
Até
2011, ele era assessor especial da prefeitura de Belo Horizonte, comandada por
Márcio Lacerda (PSB). Otílio teve que entregar o cargo após ser revelada a
sociedade com Pimentel na P-21 e que ele recebeu R$ 400 mil de uma empresa que
tinha Alexandre Allan como sócio.
À
época, Pimentel era ministro do Desenvolvimento.
Houve
mandados de busca e apreensão em Brasília, São Paulo e no Rio, além de Minas
Gerais. Não houve prisões.
INQUÉRITO
Na
semana passada, a PF solicitou ao STJ abertura de inquérito sobre o governador
de Minas por suposto crime de “lavagem ou ocultação de bens, direitos ou
valores”, como parte dos desdobramentos da Operação Acrônimo. O tribunal ainda
não se manifestou sobre se aceita ou não a abertura de inquérito.
Advogado
de Pimentel, Antônio Carlos de Almeida Castro disse à reportagem que esteve no
STJ pedindo a atualização do inquérito, mas não conseguiu. Ele disse que o
governador se colocou à disposição para esclarecimentos e criticou os pedidos
de busca.
“Estamos
falando do governador de Minas Gerais, não de uma pessoa qualquer. Claro que a
investigação tem que ser feita, mas tem que ter racionalidade nos pedidos. Tudo
isso é muito grave. Judiciário foi prudente neste momento.”
AGÊNCIA
Houve
busca e apreensão na agência de comunicação Pepper, que executa a comunicação
do PT nas redes sociais e é responsável pela página não oficial de Dilma
Rousseff no Facebook -atuou, inclusive, para a campanha de eleição da
presidente em 2010. Ainda não se sabe o que motivou essa busca.
A
agência continuará prestando serviços ao PT.
A
operação prendeu, há algumas semanas, Benedito Rodrigues, o Bené, empresário
próximo ao governador de Minas, Fernando Pimentel (PT). Bené foi solto logo em
seguida.
A
investigação sobre a atuação de Bené teve início em 2014, quando a PF
apreendeu, a partir de uma denúncia anônima, mais de R$ 100 mil em uma aeronave
onde viajava o empresário e outras pessoas. A aeronave foi apreendida depois de
decolar de Belo Horizonte e pousar em Brasília. O caso ocorreu durante a
campanha eleitoral.
Bené
é dono de empresas do setor gráfico e já firmou mais de R$ 500 milhões em
contratos com órgãos federais entre 2005 e 2015, em especial os ministérios da
Saúde, das Cidades e do Combate à Fome. Segundo a PF, há uma “confusão
patrimonial” e indícios de lavagem de dinheiro com o uso de “laranjas”.
A
PF também afirma ter encontrado documentos que trazem indícios de que Bené
teria atuado no caixa dois da campanha que elegeu Pimentel em Minas. Uma tabela
impressa em duas páginas traz a inscrição “Campanha Pimentel”, segundo a PF.
As
empresas vinculadas a Bené trabalharam na campanha de Pimentel, tendo sido
remuneradas em R$ 3,2 milhões por meio do comitê financeiro estadual do PT.
OUTRO
LADO
O
governo de Minas afirmou, em nota, que a ação da PF é a “extensão da
arbitrariedade cometida anteriormente”, quando um apartamento da mulher de
Pimentel, a jornalista Carolina Oliveira, foi alvo de ação da Polícia Federal.
“Com
base somente em ilações e deduções fantasiosas, essa investigação prossegue
eivada de irregularidades, tanto que os pedidos para a realização de busca e
apreensão nas sedes do governo de Minas Gerais, na residência oficial e na
residência particular do governador, e ainda em relação a sua esposa, foram
negados pelo ministro Herman Benjamin, do Superior Tribunal de Justiça, por
considerá-los desarrazoados”, diz a nota do governo mineiro.
“O
governador e sua esposa reafirmam sua confiança na Justiça e colocam-se, como
sempre estiveram, à disposição das autoridades para qualquer esclarecimento, o
que torna desnecessária e abusiva a reiterada tentativa de utilizar esse tipo
de medida policial.”
Ainda
segundo o governo de Minas, serão tomadas todas as providências para assegurar
“o respeito ao direito individual, à legalidade e à autonomia federativa” para
“coibir o abuso e a arbitrariedade na condução do inquérito policial”.
Por
meio de nota, a assessoria da Pepper informou que a empresa deu acesso aos
documentos requeridos e continuará à disposição das autoridades para prestar
todas as informações necessárias.